Análise da Cúpula de Copenhague
Deu no blog Independência Sul-americana
Cesar Fonseca
Se o interesse em conter a poluição ambiental destrutiva é global e a economia globalizada está em crise porque os equivalentes gerais das trocas internacionais, ou seja, o dólar e o poder imperial americano, estão em bancarrota, desacreditados, a superação do impasse não ocorrerá unilateralmente por proposta que reflita a divisão internacional do trabalho falida sob moeda e mandamentos americanos, mas por novo modelo monetário e governo globais sob coordenação da ONU. Caso contrário, as soluções serão parciais, incompletas, e não globais, completas, satisfatórias.
A ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, que destronou o ministro Carlos Minc, do Meio Ambiente, para posar de candidata do presidente Lula no cenário global da Conferência de Compenhague, perdeu oportunidade de ouro para lançar olhar abrangente sobre o panorama não apenas ambiental do planeta terra, mas, sobretudo, da economia mundial, que está em frangalhos, sem moeda confiável, capaz de encaminhar soluções globais. Qual a moeda que gerenciará o FUNDO FINANCEIRO que distribuiria recursos aos 192 países que participam das discussões na Dinamarca, sem possibilidade de haver entendimento, pelo menos por enquanto? O dólar? Brincadeira. A moeda de Tio Sam se desvaloriza, aceleradamente, no compasso da bancarrota financeira dos Estados Unidos. Os bancos centrais, o Banco Mundial, o FMI etc não cansam de alertar: o capitalismo está à beira do abismo. Só se sustenta mediante déficits gigantescos, bancados pelos governos, que, por sua vez, perdem fôlego quanto mais tentam apagar o fogo. A bolha financeira especulativa global segue em marcha acelerada, demonstrando que o gás keynesiano está com suas horas e dias contados. A hiperinflação mundial, que se esconde atrás das dívidas públicas internas, executando a tarefa de crescer no lugar da inflação exponencial tal qual ventre de mãe com data marcada para expelir o feto – que promete cara de monstro – não recomenda que o dólar, o equivalente geral das trocas comerciais, seja a moeda capaz de gerenciar o FUNDO DE SALVAÇÃO DA TERRA, porque ele deixou de ser SALVAÇÃO para se transformar em DEGENERAÇÃO.
Cooperação multilateral urgente
Se o impasse é global, a solução , igualmente, terá que ser global-multilateral e não, meramente, unilateral, sob visão neoliberal ultrapassada da divisão internacional sob o dólar em bancarrota, algo que não foi considerado por Minc e Dilma, em Copenhague, revelando-se, ambos, acanhados no cenário global, depois de o Brasil surpreender-se, internacionalmente, com as propostas avançadas de redução das emissões dos gases poluentes. Faltou descortínio brasileiro em Copenhague, para onde a disputa presidencial se deslocou.
O euro poderia substituir o dólar? Claro que não. A Europa, somente, consegue respirar, no ambiente capitalista global, se houver continuidade daquilo que evaporou: o consumismo americano , que realizava as importações européias no déficit comercial crescente bancado pelos Estados Unidos. Da mesma forma, a China não teria condições de jogar sua moeda, em escala mais avançada, porque está fragilizada com a montanha de dólares desvalorizados como expressão dos superávits comerciais realizados na praça americana, cuja potência despencou, ou seja, a capacidade de consumo da população, bancada pelo crediário, empoçado na bancarrota financeira. Japão e países asiáticos, idem. Na prática, verifica-se o desmoronamento da divisão internacional do trabalho, vigente depois da segunda guerra mundial, em que o dólar se transformou no equivalente monetário capaz de armar a estratégia imperial dos Estados Unidos como gendarme do mundo, para evitar o avanço do socialismo. Na nova divisão internacional do trabalho do pós-guerra, que decretou o fim da influência da libra esterlina inglesa, o dólar emitido sem lastro pelo vencedor do grande conflito mundial, ancorado nas bombas atômicas e na produção bélica e espacial – economia de guerra keynesiana – , geraria, de um lado, superávit financeiro para sustentar, de outro, déficits comerciais, expressão dialética, por sua vez, dos superávits comerciais dos aliados europeus e asiáticos em geral. Os americanos garantiriam, com sua moeda deslastreada, sem garantia real, livre do padrão-ouro, predominante no século 19, sob imperialismo inglês, a sobrevivência dos aliados na guerra, para evitar que caíssem na órbita comunista soviética.
Dólar já era
Marina, o Canto do Uirapuru amazônico, agita em Copenhague suas posições avançadas, para tentar pontificar-se como liderança emergente mundial, a fim de obter repercussão interna em favor de sua candidatura presidencial, mas não construiu, no grande encontro internacional, discurso global, capaz de ultrapassar a divisão internacional do trabalho falida sob a moeda americana em bancarrota , incapaz de dar curso ao grande drama econômico mundial que levou a terra à beira da destruição.
Os dólares foram emitidos sem dó nem piedade, para sustentar a guerra fria, obrigando a União Soviética a, igualmente, entrar em déficits, que a destruiriam no final da década de 1980, com a queda do muro de Berlim. Para o capitalismo, a guerra é solução; para o socialismo, destruição. Abririam os americanos espaço para o unilateralismo neoliberal global washingtoniano, desde então, até que, quase vinte anos depois, também, o modo imperial unilateral, também, fosse aos ares na grande crise de 2008, denotando a bancarrota do dólar. A divisão internacional do trabalho deixou de ser bancada pela moeda americana, que não tem mais gás para ser equivalente geral das trocas globais, visto que se expressa, agora, apenas, como pressão inflacionária irresistível. Como seria possível formar, sob orientação dessa divisão internacional do trabalho falida, que levou o planeta a um impasse ambiental-ecológico global, FUNDO DE INVESTIMENTO sob coordenação da moeda americana, estando esta na condição comprometida pelos déficits americanos, caminhando para deixar de ser útil, negando a essência do capitalismo, ou seja, a IDEOLOGIA UTILITARISTA, segundo a qual TUDO QUE É ÚTIL É VERDADEIRO, SE DEIXA DE SER ÚTIL, DEIXA DE SER VERDADE(Keynes)? Não fosse, nesse momento, o socorro emergencial dos bancos centrais, o mundo capitalista estaria em chamas. Como os BCs não podem deixar de utilizar essa estratégia expansionista, que decreta a eutanásia dos rentistas, sob pena de o panorama capitalista se agravar, de onde viriam os recursos capazes de atender as demandas de uma nova industrialização, adequada à produção global, sem que haja uma deterioração ambiental ainda mais graves, se a moeda americana não pode mais ser referência monetária internacional, na escala necessária exigida pela terra para ser salva da ação destruidora do capital, expresso no dólar? Quanto vai render esse FUNDO ECOLÓGICO GLOBAL, se o investidor souber que é formado por dólar, que tem que conviver com juro negativo? Keynes, em Bretton Woods, em 1944, desconsolado pelo fato de que sua Inglaterra estava em bancarrota financeira, sendo obrigada a ver a libra esterlina dar lugar ao dólar, tentou fazer valer proposta genial segundo a qual o capitalismo , depois da guerra, passasse a dispor de um câmbio internacional, sustentado por moeda mundial, que denominou de BANKOR. Debalde.
Imperativo categórico
65 anos depois, a proposta de Keynes, de criação de moeda internacional, o BANKOR, lançada em Bretton Woods, para coordenar a divisão internacional do trabalho e os balanços de pagamentos dos países desenvolvidos e subdesenvolvidos, no cenário global, volta a ser debatida diante da bancarrota do dolar, como moeda de troca internacional, incapaz de abrir horizontes no ambiente de bancarrota financeira e ambiental, sob impasse generalizado em Copenhague.
Os déficits em contas correntes dos países, pela proposta do genial economista inglês, seriam administrados por uma autoridade monetária global, no caso, o FMI, mas, os americanos, vencedores da guerra, enxotaram a proposta keynesiana. Impuseram a nova ordem monetária. O dólar faria o papel do BANKOR. O endividamento americano seria o contrapolo dos déficits globais e o dólar, patrão do FMI-Banco Mundial etc, o gerente dos s déficits globais. Tio Sam mandaria ver nas emissões de moeda, com direito a senhoriagem monetária, cobrando juros sobre os empréstimos, para gerar superávit financeiro, com o qual gerenciaria as economias dos parceiros, via Banco Mundial e FMI, sobre as quais Washington, claro, teria poder de voto e veto globais. Keynes , indiretamente, encaixou-se no modelo do dólar, vestido de BANKOR, que, evidentemente, passaria a depender da capacidade dos Estados Unidos realizarem déficits enquanto fosse possível o mercado confiar na moeda americana. A grande crise de 2008 mostrou que o limite de endividamento dos Estados Unidos para bancarem essa façanha imperial chegou ao fim. Como, igualmente, chegou aos seus limites a capacidade de a economia de guerra americana ser capaz de bancar uma moeda para que a mesma seja a expressão do FUNDO FINANCEIRO ECOLÓGICO GLOBAL capaz de salvar ambientalmente o planeta terrestre. Perdeu a confiança popular global depois que o capitalismo, incapaz de se reproduzir na produção, tornou-se obrigado a exercitar essa tarefa, ao longo das últimas seis décadas, na especulação, via bolhas financeiras intermitentes, até que se formou a GRANDE BOLHA 2008. Esta levou tudo aos ares. NOVA MOEDA INTERNACIONAL seria a única alternativa capaz de formar FUNDO GLOBAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL com a concordância de todos, porque a responsabilidade pela emissão dela não seria mais de exclusividade americana, mas global. O MULTILATERALISMO se impõe em Copenhague como imperativo categórico, como diria Kant
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
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