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segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

(Brasil - Educação) - Governos e prefeituras tratam mal os professores

Ensino de qualidade está cada vez mais distante

Mário Augusto Jakobskind

Não chega a ser novidade o fato de os professores brasileiros viverem em situação de penúria em praticamente todos os Estados, em alguns em piores condições do que outros. Salários baixos e condições péssimas de trabalho são as marcas que tornam os professores excluídos. É o caso de um professor de matemática do Estado de Minas Gerais, que prefere não se identificar, porque nunca se sabe, ao contar o que está acontecendo por lá.

O mestre dá aulas no terceiro ano do ensino médio da rede estadual mineira e recebe um salário de 545 reais. O Estado governado por Aécio Neves, que passa mais tempo em Ipanema do que em Belo Horizonte, lhe fornece, segundo informou, 33 reais de auxílio transporte, mas ele gasta mensalmente 200 reais para se deslocar para a escola. Portanto, o professor gasta do seu próprio bolso 167 reais.

Como se isso não bastasse, o mestre de matemática é obrigado a dar aula em turmas lotadas de alunos, o que torna ainda mais difícil o ensino e a aprendizagem. E aí, ele mesmo se pergunta: “como incentivar os meus alunos se eu que estudei não tenho condições dignas de viver, pois o que recebo não dá para nada”.
Há casos até de alunos que ainda nem terminaram os estudos do segundo grau e que ao trabalharem recebem salários maiores do que o do professor de matemática. Então, o próprio mestre se pergunta: “valeu a pena ter estudado e feito curso superior? Vestir mal, comer mal, dormir mal, que vida é esta?”

No caso de Minas Gerais, há uma total indiferença do governo para com os professores, que há 10 anos não sabem o que é reposição salarial. segundo informa o professor de matemática.
Há ainda uma agravante. Aécio diz que não tem dinheiro em caixa para melhorar o salário dos professores, mas gasta 1,2 bilhão de reais para a construção de repartições públicas. Obras nesse sentido foram orçadas em fins de 2007 em 949 milhões de reais e hoje, com acréscimos e reajustes, o tal Palácio das repartições atinge os 1,2 bilhão de reais.

Com a ajuda do professor de matemático do Estado de Minas Gerais calcula-se o que daria para ser feito com o custo da obra não tão prioritária. Com os 1,2 bilhão de reais daria para construir e equipar quatro hospitais como o Instituto do Câncer de São Paulo e ainda o Instituto da Mulher, considerado o maior de sua especialidade na América Latina, com 474 leitos. Ainda sobrariam 120 milhões de reais, o suficiente para construir um hospital com 200 leitos.

Mais um exemplo de descaso

Mas Aécio Neves não está nem aí e de vez em quando tem a audácia de falar em “ensino de qualidade”, enquanto o professor do Estado é sistematicamente desvalorizado.
Se você imagina que o panorama relatado pelo professor de matemática se resume ao Estado de Minas Gerais está muito enganado. Em São Paulo, no Rio de Janeiro, no Rio Grande do Sul e em outros Estados o panorama não é muito diferente. Há um visível descaso das elites governantes com a educação, tema que aparece no mundo político na antevéspera de eleições. Mas quando eleitos, os governantes nada fazem de concreto para melhorar a qualidade do ensino público, inclusive pouco se importando com os professores.

O Município do Rio de Janeiro é também um exemplo de descaso. O atual Prefeito Eduardo Paes durante a campanha manifestou-se em várias oportunidades contra o esquema de aprovação automática. Uma de suas principais promessas foi acabar com o que estava institucionalizado pela gestão anterior de César Maia.

Pois bem, passados alguns meses, a gestão de Paes está fazendo até pior do que antes, ou seja, está adotando, na prática, o que havia combatido, mas de uma outra forma. A Secretaria de Educação do Município tem obrigado os professores a dar provas para os alunos com questões repetidas. Ou seja, além de tirarem a autonomia dos mestres em preparar eles mesmos as provas de avaliação, a Secretaria fornece as questões. Aí o que acontece? As mesmas questões das provas de avaliação dadas num semestre são repetidas no período seguinte mudando apenas a ordem das questões. E o professor é obrigado também a grampear as provas que são mandadas pela Secretaria de Educação.

A estratégia é a de mascarar a promoção automática, tão combatida durante a campanha eleitoral.
Pois é, assim caminha a educação no Brasil, ainda por cima estão instituindo a promoção por produtividade, outra proposta que o prefeito mentiroso está querendo impor goela adentro aos professores do município do Rio de Janeiro.

Paes, um egresso do tucanato, segue a orientação do Governador de São Paulo, José Serra, cujo partido emprestou ao Rio de Janeiro uma secretária de Educação, a senhora Claudia Costin, também egressa do PSDB, tendo prestado serviços ao governo de Fernando Henrique Cardoso.

No Rio de Janeiro ainda por cima o Governo do Estado reprime professores que se manifestam na defesa dos seus interesses e conseqüentemente dos alunos que freqüentam as escolas, como aconteceu recentemente nas escadarias da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. A PM do Governador Aergio Cabral baixou o sarrafo chegando a ferir alguns professores que pressionavam os parlamentares a votarem suas justas reivindicações.

A população brasileira precisa ser informada sobre tudo o que acontece na área da educação, para evitar que candidatos inescrupulosos manipulem o tema durante a campanha eleitoral, enganando os eleitores com promessas que não são cumpridas e vendendo gato por lebre.

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