Quando as histórias se repetem como farsa
No Rio de Janeiro nos anos 50 e 60 não poucas áreas pobres da cidade antes de serem removidas foram cenários de incêndios estranhos. Tudo ficou por isso mesmo e não houve vontade política para se apurar as denúncias de então. Será que a história se repete como farsa em São Paulo?
No governo Carlos Lacerda, no então Estado da Guanabara, mendigos foram jogados no Rio da Guarda e morreram. Não houve punições. Muitos anos depois, em vários pontos da cidade, inclusive no centro, nas proximidades da Igreja da Candelária, meninos de rua foram mortos, repetindo-se como farsa o que tinha acontecido no Rio da Guarda.
No início há uma grita muito grande por tamanho crime hediondo, depois, com o passar do tempo as histórias vão se repetindo como farsa numa rotina escandalosa que macha a história do Rio de Janeiro (MAJ).
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Deu no Centro de Mídia Independente
Grave denúncia deve ser apurada
A recente enchente que atingiu a Zona Leste pode ter persistido por ação intencional de órgãos públicos municipais e estaduais. A suspeita, gravíssima, é levantada por moradores e moradoras dos bairros atingidos por uma grande enchente do dia 8 e até recentemente castiga a região. É possível que uma manobra na engenharia hidráulica dos rios paulistanos tenha mantido a inundação por muitos dias após a chuva. O motivo para tão grave crime seria a aceleração dos despejos de residências localizadas na várzea que serão removidas para a construção do Parque Várzeas do Tietê, orçado em R$1,7 bilhões e será inaugurado para a Copa de 2014.
De fato, no dia 14/12, o Prefeito Gilberto Kassab anunciou a antecipação dos despejos para toda a área, em que vivem mais de 5.000 famílias. Até o momento, no entanto, a "alternativa" oferecida aos/às moradores/as se limitou ao já conhecido "cheque despejo" de R$5.000 ou um "bolsa-alguel" de R$ 300 mensais por dois anos, mas sem nenhuma garantia de reassentamento. Ameaças e tentativas de despejo ilegais já foram tentadas no Jardim Pantanal, em que tratores só não derrubaram casas devido à mobilização popular na área.
Engenharia (social) nas barragens do Rio Tietê em São Paulo
Os principais rios que cortam a cidade de São Paulo, o Pinheiros e o Tietê, hoje em dia nada mais são do que canais e represas controlados por uma série de barragens e usinas elevatórias, que teoricamente são um "sistema fechado" e que poderia ser manipulado "tecnicamente". Existem barragens em Guarulhos, Penha, Osasco, Santo Amaro e região das represas, que também cumprem a função regulatória dos níveis do rio.
As últimas enchentes que atingiram a Zona Leste - e seu inusitado prolongamento - levantaram uma série de suspeitas por parte dos moradores e moradoras. A chuva do dia 08/12, em que o Rio Tietê transbordou, atingiu em cheio a popularidade do prefeito Kassab e do governador Serra. Nos dias que se seguiram, a situação no resto da cidade se estabilizou, enquanto na Zona Leste, acima da barragem da Penha, a inundação persistiu. O receio da população é de que mais uma vez a engenharia hidráulica que rege a "vida" dos rios paulistanos tenha cumprido um papel nefasto. Desse modo, a manutenção da enchente naquela parte periférica da cidade garantiria que a água não iria incomodar as regiões centrais. Além disso, reforçaria o argumento dos governos de que aquela população é "invasora" de área e deve ser despejada.
O que pode parecer uma suposição despropositada é na realidade recorrente na história da ocupação das várzeas em São Paulo e constitui mecanismo importante para a especulação imobiliária em São Paulo. Em 1929 uma grande enchente atingiu a região do Rio Pinheiros em meio ao processo de delimitação da área a ser cedida à Cia Light, que executaria as obras de retificação daquele rio. O trabalho de doutorado da geógrafa Odette Seabra indica que o nível de chuvas verificado era incompatível com uma inundação daquele porte, restando como possibilidade apenas a abertura das barragens das represas, controladas pela companhia.
No caso da enchente atual, alegou-se falha nas estações de bombeamento; o lixo também foi culpado. No entanto, indústrias como a Bauducco ou empresas de mineração continuam assoreando o rio, mas não são responsabilizadas. A prefeitura, que semanas antes "endurecia" com a população, afirmando que essa era invasora ilegal, hoje defende o discurso da desapropriação como se essa fosse uma atitude de benevolência. E até hoje não elaborou um plano de reassentamento dessas famílias. Fato é que o Jardim Romano continua embaixo d'agua e as chuvas da estação prometem só agravar a situação já precária das famílias.
É também no mínimo intrigante que o complexo sistema de canais e represas de São Paulo não tenha conseguido absorver o excesso de água que se acumula na região, seja escoando a água através de maior abertura da barragem da Penha, aumentando o escoamento "natural" pelo Rio Tietê ou distribuindo-a pelos outros canais ou represas. Em casos extremos, de enchentes, é permitido que a água excessiva do Rio Tietê seja bombeada através do Rio Pinheiros para que seja armazenada nas represas Billings e Guarapiranga. Por que desta vez o sistema hidráulico "não funcionou" é uma pergunta que não quer calar.
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