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sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Enchente pode ter sido estendida pelos governos, afirmam moradores da zona leste de São Paulo

Quando as histórias se repetem como farsa


No Rio de Janeiro nos anos 50 e 60 não poucas áreas pobres da cidade antes de serem removidas foram cenários de incêndios estranhos. Tudo ficou por isso mesmo e não houve vontade política para se apurar as denúncias de então. Será que a história se repete como farsa em São Paulo?

No governo Carlos Lacerda, no então Estado da Guanabara, mendigos foram jogados no Rio da Guarda e morreram. Não houve punições. Muitos anos depois, em vários pontos da cidade, inclusive no centro, nas proximidades da Igreja da Candelária, meninos de rua foram mortos, repetindo-se como farsa o que tinha acontecido no Rio da Guarda. 
 
No início há uma grita muito grande por tamanho crime hediondo, depois, com o passar do tempo as histórias vão se repetindo como farsa numa rotina escandalosa que macha a história do Rio de Janeiro (MAJ).  
xoxoxoxoxoxoxoxooooooooooxooxoxoxoxxooxxooxoxxoxoo

Deu no Centro de Mídia Independente

Grave denúncia deve ser apurada

A recente enchente que atingiu a Zona Leste pode ter persistido por ação intencional de órgãos públicos municipais e estaduais. A suspeita, gravíssima, é levantada por moradores e moradoras dos bairros atingidos por uma grande enchente do dia 8 e até recentemente castiga a região. É possível que uma manobra na engenharia hidráulica dos rios paulistanos tenha mantido a inundação por muitos dias após a chuva. O motivo para tão grave crime seria a aceleração dos despejos de residências localizadas na várzea que serão removidas para a construção do Parque Várzeas do Tietê, orçado em R$1,7 bilhões e será inaugurado para a Copa de 2014.

De fato, no dia 14/12, o Prefeito Gilberto Kassab anunciou a antecipação dos despejos para toda a área, em que vivem mais de 5.000 famílias. Até o momento, no entanto, a "alternativa" oferecida aos/às moradores/as se limitou ao já conhecido "cheque despejo" de R$5.000 ou um "bolsa-alguel" de R$ 300 mensais por dois anos, mas sem nenhuma garantia de reassentamento. Ameaças e tentativas de despejo ilegais já foram tentadas no Jardim Pantanal, em que tratores só não derrubaram casas devido à mobilização popular na área.

Engenharia (social) nas barragens do Rio Tietê em São Paulo

Os principais rios que cortam a cidade de São Paulo, o Pinheiros e o Tietê, hoje em dia nada mais são do que canais e represas controlados por uma série de barragens e usinas elevatórias, que teoricamente são um "sistema fechado" e que poderia ser manipulado "tecnicamente". Existem barragens em Guarulhos, Penha, Osasco, Santo Amaro e região das represas, que também cumprem a função regulatória dos níveis do rio.

As últimas enchentes que atingiram a Zona Leste - e seu inusitado prolongamento - levantaram uma série de suspeitas por parte dos moradores e moradoras. A chuva do dia 08/12, em que o Rio Tietê transbordou, atingiu em cheio a popularidade do prefeito Kassab e do governador Serra. Nos dias que se seguiram, a situação no resto da cidade se estabilizou, enquanto na Zona Leste, acima da barragem da Penha, a inundação persistiu. O receio da população é de que mais uma vez a engenharia hidráulica que rege a "vida" dos rios paulistanos tenha cumprido um papel nefasto. Desse modo, a manutenção da enchente naquela parte periférica da cidade garantiria que a água não iria incomodar as regiões centrais. Além disso, reforçaria o argumento dos governos de que aquela população é "invasora" de área e deve ser despejada.

O que pode parecer uma suposição despropositada é na realidade recorrente na história da ocupação das várzeas em São Paulo e constitui mecanismo importante para a especulação imobiliária em São Paulo. Em 1929 uma grande enchente atingiu a região do Rio Pinheiros em meio ao processo de delimitação da área a ser cedida à Cia Light, que executaria as obras de retificação daquele rio. O trabalho de doutorado da geógrafa Odette Seabra indica que o nível de chuvas verificado era incompatível com uma inundação daquele porte, restando como possibilidade apenas a abertura das barragens das represas, controladas pela companhia.

No caso da enchente atual, alegou-se falha nas estações de bombeamento; o lixo também foi culpado. No entanto, indústrias como a Bauducco ou empresas de mineração continuam assoreando o rio, mas não são responsabilizadas. A prefeitura, que semanas antes "endurecia" com a população, afirmando que essa era invasora ilegal, hoje defende o discurso da desapropriação como se essa fosse uma atitude de benevolência. E até hoje não elaborou um plano de reassentamento dessas famílias. Fato é que o Jardim Romano continua embaixo d'agua e as chuvas da estação prometem só agravar a situação já precária das famílias.

É também no mínimo intrigante que o complexo sistema de canais e represas de São Paulo não tenha conseguido absorver o excesso de água que se acumula na região, seja escoando a água através de maior abertura da barragem da Penha, aumentando o escoamento "natural" pelo Rio Tietê ou distribuindo-a pelos outros canais ou represas. Em casos extremos, de enchentes, é permitido que a água excessiva do Rio Tietê seja bombeada através do Rio Pinheiros para que seja armazenada nas represas Billings e Guarapiranga. Por que desta vez o sistema hidráulico "não funcionou" é uma pergunta que não quer calar.

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