Começa nesta segunda-feira (25) em Porto Alegre um balanço sobre os 10 anos de Fórum Social Mundial, criado em contraposição ao avanço do neoliberalismo representado pelo Fórum Econômico de Davos. A análise é do empresário Oded Grajew, considerado “pai” do FSM.
Informe da Agência Brasil
“Mais do que nunca um outro mundo é possível. Há dez anos o modelo neoliberal estava no auge, o Meném [Carlos Menén, ex-presidente da Argentina] era recebido como modelo a ser seguido. Hoje o quadro político mudou, principalmente na América Latina. Vários frequentadores do fórum estão hoje nos governos”, disse em entrevista à Agência Brasil.
Em dez anos, na avaliação de Grajew, o fórum conseguiu emplacar ideias que se transformaram em políticas públicas e chegou a apresentar as fórmulas para que países saíssem da crise financeira internacional.. “Vários países que se salvaram da crise seguiram propostas e recomendações do fórum, como o controle do sistemas financeiro e o fortalecimento da economia no mercado interno”, citou.
O legado do maior encontro de movimentos sociais do planeta também inclui a criação de “uma sociedade civil global”, que fez o FSM “se espalhar pelo mundo”, segundo Grajew, e garante a atuação da sociedade civil em espaços de decisão como as reuniões do G-8 e a Conferência da Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas.
Uma década depois da primeira edição, Grajew reconhece que o fórum é visto com menos preconceito pela sociedade, que considerava o encontro esvaziado de propostas concretas. “Quando começou não era levado a sério, era visto com um lugar de gente que só sabe protestar. Hoje é muito mais levado a sério. Não significa que ficou menos revolucionário, as propostas são muito avançadas.”
Com o enfraquecimento das políticas neoliberais, o fórum tende a concentrar as críticas e reflexões em novos temas, principalmente a sustentabilidade. “O outro mundo possível se torna cada vez mais urgente. A questão ambiental é uma ameaça. Temos que ter outro modelo de produção, de consumo e outra relação com a natureza”, lista.
Segundo Oded Grajew, entre os desafios do FSM para os próximos anos também está a necessidade de mudanças nos sistemas de financiamentos de governos.
O FSM 10 anos começa na próxima segunda-feira (25) e vai até o dia 29, com cerca de 500 atividades em Porto Alegre e em municípios da região metropolitana da capital gaúcha. A expectativa é que 30 mil pessoas passem pelo megaevento durante a semana.
Lula e quatro presidentes da América Latina devem ir
O Fórum deverá reunir pelo menos cinco presidentes latinoamericanos. Na noite de terça-feira (26), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai participar de um diálogo com a sociedade civil, para comemorar os 10 anos do evento e apresentar um balanço de seus sete anos de governo às organizações ligadas ao FSM.
A organização do evento aguarda as presenças dos presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, da Bolívia, Evo Morales e do Paraguai, Fernando Lugo. Até o momento, apenas o novo presidente uruguaio, José Pepe Mujica, confirmou que participará do evento. O encontro entre presidentes acontecerá no Ginásio Gigantinho.
Aliados históricos das ideias do Fórum Social, os presidentes deverão falar para uma plateia de até 15 mil simpatizantes da proposta altermundista: de estudantes a intelectuais criadores do evento.
Para Oded Grajew, a presença de governantes não tira o “caráter apartidário” do FSM, previsto em sua Carta de Princípios.
“O quadro político mudou desde a primeira edição do Fórum em 2001. Vários frequentadores do FSM estão hoje no governo e é importante que eles continuem participando porque queremos que as propostas daqui virem políticas públicas”, avalia.
Na última edição do FSM, em 2009, em Belém, Lula, Chávez, Lugo, Evo e o presidente do Equador, Rafael Correa, também fizeram uma aparição conjunta, com críticas a instituições financeiras internacionais, ao mercado e aos países ricos.
Na mesma semana, o presidente Lula vai ao Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suíça). O presidente será o primeiro chefe de Estado a receber do Fórum Econômico o prêmio de Estadista Global, em uma homenagem marcada para a quinta-feira (29).
Seminário discute 10 anos de Fórum Social Mundial
Uma das atividades centrais do Fórum Social Grande Porto Alegre será o Seminário Internacional “10 Anos Depois: Desafios e propostas para um outro mundo possível”, que contará com a participação de mais de 70 intelectuais e dirigentes sociais do mundo todo - muitos dos quais integraram o processo de criação e construção do Fórum Social Mundial (FSM) nos últimos dez anos. Veja a lista dos participantes.
O Seminário, que acontece na cidade de Porto Alegre, buscará examinar os novos desafios da sociedade civil altermundialista e projetar os caminhos futuros para o FSM. Também deve fazer uma reflexão mais sistemática sobre o que foi realizado até aqui, os erros e acertos, e a dinâmica institucional do Fórum, constituindo-se em um momento de reflexão estratégica dirigido aos ativistas mais envolvidos no processo. As atividades acontecerão na Assembléia Legislativa, na Usina do Gasômetro e nos Armazéns do Porto, sempre no período da manhã.
Confira abaixo a programação do Seminário Internacional “10 Anos Depois: Desafios e propostas para um outro mundo possível”:
1º dia, 25/01/2010 - FÓRUM SOCIAL MUNDIAL - BALANÇO DE 10 ANOS
2º dia, 26/01/2010 - CONJUNTURA MUNDIAL HOJE
Mesa 1: Conjuntura Ambiental
Mesa 2: Conjuntura Econômica
Mesa 3: Conjuntura Política
Mesa 4: Conjuntura Social
3º dia, 27/01/2010 - ELEMENTOS DA NOVA AGENDA I
Mesa 1: Bens-Comuns
Mesa 2: Sustentabilidade
Mesa 3: Economia e Gratuidade
Mesa 4: Bem-Viver
4º dia, 28/01/2010 - ELEMENTOS DA NOVA AGENDA II
Mesa 1: Organização do Estado e do Poder Político
Mesa 2: Direitos e Responsabilidades Coletivas
Mesa 3: Novo Ordenamento Mundial
Mesa 4: Como construir hegemonia política
5º dia, 29/01/2010 - Sistematização das Grandes Questões e Contribuição para o Processo Fórum Social Mundial
RUMO A DACAR 2011: A MULTIPLICIDADE DOS FÓRUNS
Fórum Social Pan-amazônico
Publicado em 24/01/2010
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