Sebastián Piñera joga para entrar em rota de colisão com o Presidente da República Bolivariana da Venezuela
Mário Augusto Jakobskind
O Chile tem novo presidente que tomará posse em março. É o empresário Sebastián Piñera, eleito no segundo turno do último dia 17 de janeiro. Eduardo Frei, o candidato da Concertación não conseguiu nem demonstrar aos chilenos que a eleição de Piñera significaria um retrocesso e o retorno de forças políticas comprometidas com a ditadura.
Na verdade, as diferenças entre Piñera e o próprio Frei em termos econômicos não são lá tantas. A Concertación seguiu o figurino traçado pela elite chilena que comandou a transição para a democracia e os quatro presidentes eleitos pela aliança, inclusive a atual presidente Michele Bachelet, foram por assim dizer o mais do mesmo.
A partir de março, os chilenos serão governados por um empresário que, segundo os jornais La Nación e El Siglo, enriqueceu durante a ditadura. Com Piñera retornam ao poder muitos servidores da ditadura que facilitaram a vida do empresário proprietário da empresa aérea Lan Chile e de uma das principais cadeias de televisão do país, a Chilevision. Piñera ainda por cima tem o controle do clube de futebol Colo-Colo.
Em função desse perfil empresarial, Piñera está sendo considerado por muitos analistas como o Berlusconi chileno. Se for isso mesmo, o Chile, como a Itália, ingressará no perigoso terreno da desmoralização política e do acentuado controle midiático conservador.
Antes mesmo da eleição, os jovens preferiram não se inscrever para votar, por entenderem que no quadro atual em nada adiantaria votar neste ou naquele candidato. Soma-se a essa descrença o quadro de despolitização em que vive o Chile e pode-se vaticinar o que será o governo de Sebastián Piñera.
Em termos econômicos não haverá propriamente muitas novidades, até porque a Concertación seguiu o receituário defendido também por Piñera. O máximo que poderá acontecer é que a caneta de Sebastián Piñera aprofundará o esquema conservador com medidas de ainda maior favorecimento ao capital. O presidente eleito promete criar um milhão de empregos, promessa essa, segundo analistas, difícil de ser cumprida nos anos de mandato que corresponde a Piñera.
Em termos de política externa, o presidente eleito do Chile vai se alinhar com o bloco capitaneado pelos Estados Unidos e que tem como aliados os presidentes Álvaro Uribe, da Colômbia, Alan Garcia, do Peru, Felipe Calderón, do México e mais recentemente Ricardo Martinelli, do Panamá, que logo que assumiu abriu o país para a instalação de bases militares estadunidenses. E isso num país que no final do século passado, com os acordos Torrijos-Carter, passou a controlar a parte do Canal do
Panamá que durante muito tempo era ocupado pelos Estados Unidos.
Não é à toa que em na primeira entrevista depois de eleito, Piñera fez questão de criticar o demonizado pelos setores conservadores latino-americanos Presidente Hugo Chávez. Na verdade, o sucessor de Bachelet antecipou o que pretende o seu governo em matéria de política externa, ou seja, um incondicional alinhamento com o governo dos Estados Unidos, o que representa um retrocesso para o continente, já que muitos governos, sejam moderados ou mais enfáticos, estão dando o recado segundo o qual a região não pretende nunca mais continuar a ser quintal ou pátio traseiro da potência hegemônica.
O atual chanceler chileno Mariano Fernández chegou a fazer um apelo a Piñera no sentido de só se pronunciar sobre política externa quando assumir o governo. Fernández certamente ficou preocupado com as reações que podem ocasionar as críticas antecipadas de Piñera ao governo de um país que o Chile mantém relações cordiais. Pode-se imaginar, portanto, que o presidente eleito do Chile entrará em rota de colisão com Chávez, o que certamente será de agrado do Departamento de Estado e de Álvaro Uribe.
Os setores conservadores da América Latina consideram importantíssimo a vitória de Piñera e contam com ele para reforçar o esquema que está sendo colocado em prática com inestimável ajuda da grande mídia que se agrupa na Sociedade Interamericana de Imprensa, onde estão representados com toda a força O Estado de S. Paulo, O Globo e a Folha de S. Paulo, entre outros órgãos de imprensa do Brasil, que a cada dia se comportam mais como partido político conservador do que empresa jornalística propriamente dita.
Ou seja, a palavra de ordem do conservadorismo latino-americano é continuar com as duras críticas a Chávez e se possível isolar ao máximo a República Bolivariana da Venezuela.
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