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segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

(Brasil - Política/Mídia) - Big-shots da mídia conservadora estão desesperados

Colunista de O Globo ataca com mentiras e meias verdades para enganar os incautos

Mário Augusto Jakobskind

A mídia conservadora brasileira está se venezuelando, ou seja, tornando-se a cada dia que passa mais defensora de interesses econômicos que se contrapõem aos de amplas parcelas da população. Quem tiver dúvidas a esse respeito deve acompanhar com atenção o noticiário diário dos principais jornais do país.

Prova concreta de preocupação com raias de desespero pelos acontecimentos nestas bandas foi dada pelo colunista de O Globo, Merval Pereira, na edição do último domingo (10). Sob o título “Programa de esquerda”, Pereira analisa o governo Lula e mistura de tal forma as questões que provavelmente inspiraria o saudoso carioca Stanislaw Ponte Preta com os seus personagens que fizeram história na imprensa brasileira.

Pereira chega a conclusão de que neste segundo mandato Lula caminha para a esquerda. O colunista, ao mais puro estilo de antigos ocupantes de espaços em O Globo, conhecidos por pregar golpes e bater as portas dos quartéis induzindo os militares a embarcarem em aventuras, critíca em tom áspero os avanços do governo Lula em tentar superar o modelo neoliberal aprofundado no anterior governo de Fernando Henrique Cardoso.

Depois de desancar contra resoluções do congresso de PT realizado em Olinda em 2002, em que se defende, entre outros pontos, o fortalecimento do Estado, o que desagrada profundamente o colunista e seus seguidores no PSDB e DEM, Pereira lembra que na eleição do primeiro mandato, Lula acabou assinando uma “Carta aos Brasileiros” em que se comprometia a não alterar o programa econômico colocado em prática pelo governo FHC. Ou seja, Pereira defende com veemência uma linha de ação que entregou de mão beijada o que pôde em matéria de estatais e tentou de todas as formas privatizar a Petrobras, além de conceder inúmeras facilidades ao capital internacional, na maior parte das vezes em detrimento dos interesses nacionais.

Pereira se supera em matéria de preocupação quando se põe a analisar tópicos aprovados na recém-encerrada Conferência Nacional de Comunicação (Confecom). Aí ele deixa mais do que claro a que veio, misturando questões, mentindo e apresentando meias verdades para induzir o leitor mais desavisado a concluir que o governo Lula caminha para atentar contra a liberdade de imprensa.

É o que tem repetido a Associação Brasileira de Empresas de Radio e Televisão (Abert) e a Associação Nacional de Jornais (ANJ), as mesmas entidades patronais que se recusaram a participar da Confecom, exatamente porque não queriam (e não querem) discutir as principais questões que regulam a mídia. E pensar que as mesmas entidades que pregam conceitos de democracia, além de evitarem o debate sobre o tema a todo o momento se associam a esquemas políticos saudosistas dos tempos em que a democracia era combatida a ferro e fogo pelos que governaram de fato o Brasil de 1964 a 1985.

E para culminar, Merval Pereira chega ao cúmulo de afirmar que a aprovação na Confecom de “um Conselho Nacional da Mídia e Direitos Humanos para monitorar a mídia com ênfase nas questões ligadas a racismo, diversidade sexual, deficientes, crianças, adolescentes, idosos, movimentos sociais, comunidades indígenas e qulombolas, é gêmea da proposta contida no Programa Nacional de Direitos Humanos”.

Esqueceu de dizer que foi realizada uma Conferência Nacional dos Direitos Humanos bem antes da Confecom, que adotou as resoluções agora questionadas por vários setores, nele incluídos os defensores incondicionais da ditadura.

Tal reflexão só pode mesmo ser encarada como desespero e falta total de compreensão do significado da necessidade de modificar a arcaica legislação que regula o setor de comunicação no Brasil. Em outras palavras: consciente ou inconscientemente, Pereira demonstra estar desinformado em matéria de avanços democráticos na área da mídia que ocorrem atualmente em vários países latino-americanos.

Trocando em miúdos, os big-shots da mídia, defendidos com unhas e dentes por Merval Pereira, pela diretoria da Sociedade Interamericana de Imprensa, estão preocupados e vão fazer o possível e o impossível para evitar que o mundo da comunicação brasileira se modernize e seja democratizado.

Este é o jogo que está sendo jogado, no qual colunistas como Pereira são escalados para defender os referidos interesses. O lamentável é que isso é feito em nome da defesa da democracia, quando se sabe que historicamente esses setores se valeram da mesma prática para desestabilizar governos e mesmo implantar ditaduras, que acabaram exatamente facilitando a vida de empresas midiáticas, como as Organizações Globo, que se para se desenvolver se valeu de favores e até mesmo ilegalidades, como a vigência do acordo com o grupo Time-Life, que permitiu o surgimento da Rede Globo.

E para que as mentiras e meias verdades de Merval Pereira não prosperem e acabam virando “verdades” é necessário que a opinião pública seja informada e participe dos debates sobre importantes temas midiáticos como os debatidos na Confecom.

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