Evo Morales deve investir mais e diversificar economia para consolidar avanços, dizem analistas
Natalia Viana
Informe do site Operamundi (www.operamundi.net)
A política econômica de Evo Morales, empossado na última sexta-feira (22) para o segundo mandato presidencial na Bolívia, tem sido elogiada por especialistas, mas não escapa de críticas.
"A política é exitosa porque permitiu não apenas crescer como diminuir a pobreza", diz o pesquisador Osvado Kacef, da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), ligada à ONU.
Em média, o país cresceu 5,2% ao ano sob Evo, segundo relatório do Centro para Pesquisas de Política Econômica (CEPR, na sigla em inglês), baseado em Washington. O PIB chegou a 19 bilhões de dólares e o PIB per capta pulou de 876 dólares em 2005 para 1671 em 2009.
"Além disso, em 2009 a Bolívia teve o maior crescimento do hemisfério", diz Mark Weisbrot, diretor do instituto e autor do estudo. Enquanto muitos países entraram em recessão no ano seguinte à deflagração da crise econômica, a Bolívia cresceu 3,5%, segundo a Cepal.
Para Weisbrot, o país foi menos afetado pela crise global graças à nacionalização dos hidrocarbonetos, combinada com o aumento nos preços internacionais. A receita proveniente dos hidrocarbonetos pulou de 5,6% do PIB em 2004 para 21,1% em 2009. "O governo tomou a decisão no tempo certo, criando um pacote de estímulo econômico bem quando a crise estava começando, aumentando muito os gastos em obras públicas e em programas sociais". Os gastos públicos aumentaram de 34% em 2005 para 45,1% em 2008.
Em termos sociais, o governo Evo criou três bônus voltados para gestantes, crianças em idade escolar e idosos, que atendem mais de 2 milhões de pessoas, cerca de um quarto da população. "E a pobreza foi reduzida em pelo menos 5 pontos percentuais", diz Weisbrot.
Para ele, Evo provou que a velha ortodoxia econômica está errada. "A regra de que a coisa mais importante que um governo pode fazer é atrair investimentos externos a qualquer custo não é verdade. Com a nacionalização e a crise, houve queda dos investimentos, mas mesmo assim a Bolívia teve o maior crescimento das últimas décadas".
Falta um projeto
Mas apesar do bom desempenho, houve poucas mudanças estruturais. O país mantém uma economia pouco diversificada e voltada para a exportação de matérias-primas – em especial recursos minerais.
"Esse tipo de produção tem produtividade alta, mas não gera muito emprego. A maior parte dos empregos ainda está em áreas com menor produtividade e menor renda, e por isso tem que complementar com essas políticas sociais", avalia Kacef.
Para Weisbrot, falta um projeto de desenvolvimento a longo prazo – que incluiria a formação de mão-de-obra qualificada e a diversificação da economia.
Kacef concorda, mas lembra que um dos empecilhos tem sido a debilidade do Estado boliviano. "A Bolívia de repente se viu dona de uma quantidade enorme de recursos minerais e apareceram inclusive novas reservas de estanho, por exemplo. Mas há limitações institucionais, como falta de capacitação e ausência do Estado em muitas regiões, o que afeta a capacidade de gastos. Isso requer um novo desenho institucional".
O maior erro do presidente reeleito, no entanto, teria sido o excesso de prudência. Durante o primeiro mandato, o governo de Evo conseguiu acumular reservas de cerca de 8 bilhões de dólares, segundo o CEPR.
"É mais até do que a China tem, relativamente à sua economia. Não há razões para tanto. Isso significa deixar de lado oportunidades de crescimento, de investimento, de programas contra a pobreza de que o país com certeza precisa muito mais", diz Weisbrot.
Mulheres no gabinete
Evo Morales nomeou neste sábado, um dia após a posse, o novo gabinete para seu segundo mandato, com a renovação de mais da metade dos ministros e a distribuição de cargos cumprindo a paridade de gênero, a exemplo do que fez Michelle Bachelet no Chile. Dez homens e dez mulheres compõem agora o governo da Bolívia, que tem sete ministros antigos e 13 novos.
O presidente da Bolívia abriu mão de alguns "homens fortes" da gestão anterior, como os ex-ministros de Presidência, Juan Ramón Quintana; do Governo (interior), Alfredo Rada; e da Defesa, Walker San Miguel.. Continuam no primeiro escalão o ministro das Relações Exteriores, David Choquehuanca; da Economia e Finanças, Luis Arce; de Autonomias, Carlos Romero; de Obras Públicas, Walter Delgadillo; e de Educação, Roberto Aguilar. A cantora boliviana Zulma Yugar será ministra da Cultura.
Data de publicação: 24/01/2010
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