A reportagem do Correio Popular localizou o ex-marinheiro Edilton Swarowski, que estava entre os presos em 64
Guilherme Busch e Milene Moreto
O governo federal anunciou, com festa, no ano passado, que estava repatriando o último exilado político brasileiro. Antonio Geraldo da Costa, o Neguinho, vivia com nome falso na Suíça e retornou ao País sob os holofotes em agosto, trazido pelo ministro Tarso Genro. Sua volta, dizia o governo, fechava um ciclo e fazia justiça a uma série de desrespeitos aos direitos humanos cometidos durante o governo militar contra cidadãos que, de alguma forma, manifestavam descontentamento com o regime. Mas pelo menos um outro brasileiro que teve que sair do País durante os anos de chumbo ainda vive no exílio. Edilton Swarowski era marinheiro, trabalhava com Neguinho e teve que fugir para o México em 1964 depois de ser preso e indiciado por “prática de motim e atos de subversão” na Associação dos Marinheiros e Fuzileiros, no Rio de Janeiro. Lá, longe de casa e da família, ele vive como exilado político até hoje, mesmo tendo sido beneficiado pela anistia.
Na cadeia, segundo a família, Swarowski foi torturado junto com outros marinheiros logo após ser detido, em 64. Libertado, decidiu deixar o País com medo de novas agressões e de perseguição, atos muito comuns nos tempos do governo militar.
Anistiado em 1988, o catarinense tem hoje 69 anos e preferiu, na época, seguir no México por medo de voltar a ser perseguido no Brasil. Hoje, vive em Querétaro, a cerca de 200 quilômetros de distância da Cidade do México. Casou-se no país e obteve cidadania mexicana. Teve quatro filhos, se separou, chegou a casar novamente, mas a última mulher morreu. Depois da separação, perdeu contato com os filhos.
Hoje, o ex-marinheiro sofre com a doença de Parkinson e vive sozinho, depende de ajuda de vizinhos, amigos e de uma pequena pensão que recebe do governo mexicano.
A família no Brasil mora na cidade de Caçador, em Santa Catarina, e diz não ter condições de bancar a volta de Swarowski. Mais: a mãe dele, com 92 anos, está muito doente e faz um pedido. Quer ver o filho antes de morrer.
Dona Ignez Swarowski, a mãe, chora ao lembrar do dia em que o filho precisou deixar o País. Ela ainda nutre o desejo de se encontrar com ele. A única maneira de contato que teve nos últimos 46 anos foi por telefone, em rápidas conversas. “Me ajudem a trazer o meu filho de volta. Estou cansada, quase não escuto mais. O meu maior desejo é poder abraçá-lo novamente”, disse.
A irmã de Edilton, Elaine Swarowski Tristão, de 63 anos, era criança na época em que ele ingressou na Marinha, em Santa Catarina. Ele tinha 17 anos. Passou praticamente dez anos viajando pelo mundo. Depois, seguiu para o Rio de Janeiro e as notícias passaram a vir a conta-gotas por conta do momento político que o País vivia.
Governo
Elaine já tentou contato com o governo brasileiro para trazê-lo de volta ao País, mas sem sucesso. “A burocracia, o custo e a exigência de documentos que estão no México formaram uma barreira. Tentamos contato com a Comissão da Anistia, mas o processo não é simples de ser resolvido. Não temos condições de ir até lá resolver e nem temos como enviar dinheiro para que ele volte. Nos preocupamos muito, porque meu irmão está doente e vivendo de caridade. Quando eu posso, mando dinheiro para ele”, afirmou Elaine. O Ministério da Justiça informou, por meio de sua assessoria de comunicação, que não existe nenhum pedido formal registrado em nome de Edilton Swarowski para auxílio de retorno ao Brasil.
Segundo o ministério, também não há solicitação junto ao Itamaraty para que ele seja trazido de volta ao País com a ajuda do governo federal. A informação é de que a ajuda governamental só ocorre quando “incitada pelos interessados no caso”.
Ex-militar se queixa da saúde
A reportagem do Correio Popular localizou o ex-marinheiro. Por telefone, o homem de voz bem rouca resiste a qualquer pergunta que remeta ao período em que precisou sair do País.
Deixa transparecer o medo. Mistura o português com o espanhol e apenas confirma as perguntas, se reservando o direito de poucas palavras.
Edilton afirma que estava entre os presos na noite da reunião no Rio de Janeiro, em 1964. E que trabalhou junto com o cabo Anselmo e o marinheiro João Cândido, a quem chamou de “companheiros”, mas não forneceu detalhes sobre a atuação do governo na época e nem da violência que sofreu. “Este assunto é muito difícil. Tem coisas que não se falam por telefone”, afirmou.
Questionado sobre a tortura e a prisão, Edilton diz que é melhor “pular a pergunta”. Com a saúde debilitada, o exilado brasileiro preferiu comentar suas doenças. Disse que, além da doença de Parkinson, passou a ter dificuldade para caminhar. E que, quando chegou ao México, passou por situações difíceis.
“Eu trabalhei minha vida inteira e agora a situação está complicada. É a minha saúde. Fiz de tudo um pouco para me manter aqui. Recebi o apoio do governo mexicano. Mas quero ir embora. Eu conto tudo o que aconteceu comigo para você quando eu chegar no Brasil.” (AAN)
Data da publicação: 17/01/2010
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