Movimentos sociais alertaram para possibilidade de tragédia em Angra dos Reis por causa do favorecimento do Governador Sergio Cabral à especulação imobiliária
Mário Augusto Jakobskind
A tragédia de Angra dos Reis comove a todos. Uma tristeza só neste início de 2010. Angra, municípios de São Paulo e Minas Gerais, muitas vítimas, que talvez pudessem ser evitadas não fosse o descalabro das administrações municipais e estaduais liberando construções a bem prazer.
O caso de Angra dos Reis é ainda mais grave. Em outubro do ano passado, o Governador Sergio Cabral (PMDB) liberou varias áreas para a construção, sem consultar a comunidade local. Entidades de defesa do meio ambiente alertaram para a possibilidade de ocorrências graves face ao favorecimento à especulação imobiliária concedido por Cabral.
Na Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, o deputado Alexandre Molon, do PT, alertava o Governador, mas foi ignorado por Cabral.
Dois meses depois, infelizmente, consumou-se a tragédia com mais de 20 mortos, somente na cidade de Angra dos Reis. Na Ilha Grande, segundo especialistas, o deslizamento, também com muitas vítimas, aconteceu sem a interferência do homem. Este é ao menos a conclusão de especialistas. O total de mortos no Estado do Rio já ultrapassa os 80.
Então, o governador, que passa os fins de semana no luxuoso resort de Portobello,de sua propriedade, na Rio/Santos, próximo a Angra dos Reis, depois de algumas horas e ao ser chamado a atenção por alguns jornais, porque parecia ignorar o que acontecia, decidiu comparecer a cidade da tragédia. Aconselhou os turistas a não irem à Ilha Grande, irritando os moradores locais, porque nem todas as praias sofreram conseqüências dos temporais, e começou a fazer discursos demagógicos, como se o decreto que ele assinou não tivesse nada a ver com a tragédia.
Cabral apenas seguiu a tradição dos políticos brasileiros que fazem o jogo de suas elites, ou seja, depois da tragédia consumada - tragédia que poderia ter sido evitada ou ao menos minorada - decide agir. O Governador, que pretende se candidatar à reeleição, em outubro próximo está agora tentando apresentar a imagem de empreendedor, algo absolutamente falso, ao menos em termos de meio ambiente em Angra dos Reis.
O Governador deve, isto sim, uma satisfação à opinião pública. Precisa explicar o motivo pelo qual fez o jogo da especulação imobiliária em Angra, ignorando solenemente as advertências dos movimentos sociais e de alguns deputados estaduais.
É possível que o tema não ganhe a dimensão que deveria. Cabral tem o controle político da Assembléia Legislativa. A mídia conservadora pouco cobra. Os principais veículos de comunicação têm explorado o sentimento de tristeza da população. Fazem um jornalismo condenável, preferindo evitar questionamentos sobre as facilidades que os sucessivos governos estaduais, não apenas o de Cabral, concedem às empresas imobiliárias. Possivelmente muitos órgãos de imprensa não querem contrariar seus anunciantes, em grande medida especuladores imobiliários, que ao longo do tempo descaracterizaram grandes e médias cidades do Estado do Rio de Janeiro e por todo o Brasil.
Se nada for feito para frear este festival de irresponsabilidade, continuar o silêncio da mídia conservadora dependente dos seus anunciantes, as estações de verão, de chuvas, no Estado do Rio e pelo Brasil a fora continuarão trágicas com perdas de vidas humanas que poderiam ser evitadas ou ao menos minoradas.
Caberia imediatamente uma reportagem investigativa para mostrar a quantas anda a saúde ambiental de áreas próximas da estrada Rio/Santos. Como as prefeituras municipais estão se comportando neste campo e de que forma são concedidas licenças de construções de condomínios fechados e resorts.
Não é preciso nenhum especialista em solo para constatar que estão agredindo impunemente o meio ambiente e pelo desenrolar dos acontecimentos, não será surpresa, lamentavelmente, se novas tragédias ocorrerem. Aí os políticos que têm responsabilidade no tema vão aparecer com seus discursos demagógicos e não serão cobrados pela imprensa conservadora.
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
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