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terça-feira, 9 de março de 2010

(Israel - Disputa de terras) - O túmulo da traidora

Tradição religiosa deturpada é usada para colonos ocuparem terras na área palestina


Uri Avnery

Fonte: Gush Shalom [Bloco da Paz], Israel

Há algumas semanas, depois de 28 anos de prisão, foi afinal libertado Mehmet Ali Agca, turco que tentou matar o papa João Paulo II em Roma.

Os motivos daquele atentado jamais foram esclarecidos. Um líder palestino, certa vez, contou-me sua versão. Deus apareceu em sonho a Agca e ordenou-lhe que fosse à Cidade Santa e matasse “aquele maldito polonês”. O turco não entendeu e, em vez de ir a Jerusalém e matar Menachem Begin, foi a Roma…

O que ajuda a demonstrar que cidades santas nunca deram vida mansa a ninguém.

O falecido Yeshayahu Leibowitz, judeu praticante e dedicado opositor do establishment religioso, costumava elogiar o trabalho dos Wahhabitas, seguidores de uma seita radical que se levantaram, há mais de 200 anos, para limpar o Islã de toda a impureza. Imediatamente depois de conquistarem Meca, trataram de destruir a tumba do Profeta Maomé. Santificar túmulos seria, segundo eles, abominação pagã. Leibowitz elogiava essa ideia e dirigia toda sua ira contra judeus que ‘santificam’ locais... “santificados”. Sabia o que dizia.

O último capítulo do Torah (Deuteronômio 34) diz: “E Moisés, servo de Deus, morreu na terra de Moab…e Moab o enterrou .... E até o dia de hoje nenhum homem conheceu seu sepulcro.” Evidentemente, também para os autores da Bíblia, santificar sepulcros sempre foi prática de adoradores de imagens.

Ao longo das gerações, os judeus, também, foram infectados pela mesma ideia. Judeus ortodoxos idolatraram o túmulo do rabino Nachman na Ucrânia e do rabino Abu-Hatzira no Egito. A mutação do judaísmo, que se tornou uma espécie de religião do Estado em Israel, fez dessa idolatria culto sagrado.

Durante os primeiros anos do Estado, um funcionário do Ministério das Religiões (como então se chamava), um certo Shmuel Zanwill Kahana, viajou pelo país e descobriu sítios sagrados a torto e a direito. Encontrou tumbas de xeiques muçulmanos e anunciou que, de fato, seriam tumbas de nossos ancestrais. Foram declarados sítios sagrados e encampados por seu ministério.

O ministério cresceu, e cresceu o orçamento do ministério, atraiu turistas e assim se ‘provou’ que os judeus teríamos raízes profundas nessa terra. Israelenses seculares riram, fazendo pouco caso; e alguns judeus religiosos, como Leibowitz, enfureceram-se.

Mas depois da Guerra dos Seis Dias e do início da ocupação da Palestina, o culto dos tais sítios sagrados ganharam outra característica, ainda mais macabra: converteram-se em instrumento para os colonos e para a ocupação.

Mas usar sítios ditos sagrados para justificar a conquista ilegal e os massacres não é, não, de modo algum, invenção nem dos judeus nem dos israelenses.

Um dos exemplos mais abomináveis dessa prática foi a Primeira Cruzada. O papa Urbano II convocou os cristão da Europa a levantar-se e partir para libertar o Santo Sepulcro – não a Palestina; não a cidade de Jerusalém, mas um sítio específico: o túmulo no qual, segundo a tradição cristã, teria estado o corpo de Jesus antes da ressurreição.

Por causa desse túmulo, muitos milhares de cristão atravessaram o mundo até Jerusalém, no caminho assassinaram milhares de pessoas (muitos judeus) e, depois de conquistarem a cidade, promoveram massacre horrendo. Segundo os cronistas cristão, andava-se em pântanos de sangue que chegavam aos joelhos. As vítimas foram muçulmanos e juveus, homens, mulheres e crianças.

Man nem é preciso viajar até 911 anos atrás para encontrar líderes mentirosos ou fanáticos que usam os sítios sagrados para justificar práticas abomináveis. Quando Slobodan Milosevic levou a cabo a limpeza étnica do Kosovo – ato de genocídio – seu principal argumento foi que ali havia terra que, para os sérvios, seria terra santa.

E, sim, em 1389 ali se travou batalha histórica. Os cristãos sérvios foram derrotados pelos otomanos muçulmanos, que ocuparam o país pelos 600 anos seguintes. Durante esse tempo, a população local voluntariamente se converteu ao Islã. Mas os sérvios santificaram o campo de batalha – exemplo raro de povo que celebra a própria derrota (como os judeus, com Masada).

Se a expressão farorita de Binyamin Netanyahu – “a Rocha de nossa Existência” – existir em sérvio, Milosevic com certeza a teria utilizado. Argumentou que o Kosovo era o centro espiritual e religioso do povo sérvio, apesar do fato de a esmagadora maioria dos habitantes serem hoje muçulmanos albaneses. Até hoje, a Sérvia não reconhece o Estado independente da Kosova, por causa das antigas igrejas e monastérios sérvios ali localizados.

E em Israel? Desde o começo da ocupação, os “sítios sagrados” na Cisjordânia têm servido como armas nas mãos dos colonos ocupantes. Mudam-se para lá, dizem eles, para restaurar o mando judeu sobre os sítios sagrados do judaísmo, por ordem de Deus.

Muitas das histórias da Bíblia têm, por cenário, aqueles territórios. Os colonos e o exército de Israel chamam-nos “Judeia e Samaria”. A denominação de pontos do território podem ser atos de anexação. Confirmam a propriedade do povo judeu, já antiga. (Nos anos 50s, o historiador britânico Steven Runciman, estudioso especialista em Cruzadas, chamou-me a atenção para o fato de que, de certo modo, os nomes haviam sido invertidos: os israelenses viviam na terra dos filistinos, palavra da qual derivou o topônimo Palestina; e os palestinos viviam na terra onde um dia houve o reino de Israel.)

A primeira colônia exclusiva para judeus foi criada por um grupo de religiosos que se valeram de um ardil, para entrar em Hebron. Uma vez que o governo militar israelense proibira que judeus entrassem na cidade, alguns judeus pediram autorização para lá ficar por apenas alguns dias, para que pudessem fazer suas rezar do Pessah na cidade santa.

Desde então, a “Caverna de Machpelah” em Hebron, passou a ser campo santificado de batalha. Ali bem perto, fixou-se um grupo de colonos judeus extremistas. São racistas, odeiam árabes e dedicam-se a expulsar dali os 160 mil árabes – famílias árabes que ali vivem há muitas gerações. O mais conhecido assassino em massa dentre aqueles judeus, o médico Baruch Goldstein, massacrava muçulmanos que lá chegavam em peregrinação, para ‘limpar’ o sítio sagrado.

Os mesmos sítios sagrados servem hoje como pretexto para as operações de assalto e assassinato que hoje se chamam “assentamentos” em Israel. Rouba-se terra de seus legítimos proprietários, em todos os territórios palestinos ocupados, porque seria terra santa. Os colonos assaltantes mais extremistas, todos eles “rabinos”, lutam pela libertação dos sítios sagrados. Um deles lidera hoje uma cruzada (ou, melhor dizendo, uma estrela-de-davizada”), para tomar posse do “túmulo de José”, no centro de Nablus, o que converte a cidade em uma segunda Hebron. O exército israelense serve de ‘abre-alas’ para esses judeus extremistas, com veículos blindados, para que possam ir “orar” lá.)

Mas nem só os “pais da pátria” merecem túmulos sagrados a serem regados com sangue. Qualquer personagem coadjuvante na Bíblia pode ser ou converter-se em alvo dos colonos judeus. Hoje se trava duro combate em torno do “túmulo de Othniel”, Othniel, filho de Kenaz, personagem bíblico absolutamente obscuro. Para os habitantes muçulmanos de Hebron, ali estaria o túmulo do fundador da cidade.

Há poucos dias, colonos judeus invadiram uma antiga sinagoga em Jericó, que os muçulmanos preservaram ao longo de muitas gerações. Os judeus sempre puderam visitar livremente o lugar – a prefeitura de Jericó, parte da Autoridade Palestina, autoriza os judeus a rezarem ali. Mas nenhum judeu das colônias jamais lá pôs os pés para rezar. Chegam como exército de conquista e ocupação.

O que me recorda outra profecia de Yeshayahu Leibowitz sobre Jericó. Os colonos judeus, disse ele, santificarão o túmulo de Rahab, a Prostituta e Traidora, em Jericó. Essa personagem bíblica (Josué 2-2:1-176), a prostituta que traiu sua cidade e ajudou os invasores a conquistá-la e assassinar todos os demais habitantes, garantindo a salvação apenas dela e de sua família, lá está, em boa companhia, cercada de colonos judeus ocupantes.

Desnecessário repetir que o culto desses ‘sítios sagrados’ é manifestamente absurdo. Não há um único túmulo em toda a Israel que possa ser de fato e cientificamente associado a alguma figura bíblica, real ou imaginada. A maioria dos sítios sagrados são túmulos de xeiques árabes que, por terem vivido vida moderada e justa, são considerados vozes capazes de interceder por alguém junto a Alá. A localização da maioria desses sítios sagrados, inclusive do Santo Sepulcro cristão, é muito incerta, para dizer o mínimo.

Tudo isso vale para os dois sítios que são hoje local de disputas sangrentas: a tumba de Raquel, em Belém, e a Caverna de Machpelah, ou Mesquita de Ibrahim, para os muçulmanos, em Hebron.

Não cabe aqui perguntar se “Nossa Mãe Raquel”, uma das figuras mais simpáticas da Bíblia, pertence ao reino da lenda ou da história. Mas mesmo segundo a lenda, Raquel não está enterrada no sítio que leva seu nome. Muitos especialistas em estudos bíblicos (do que creem que Raquel seja personagem histórica) dizem que ela estaria enterrada ao norte, não ao sul, de Jerusalém. A tradição muçulmana localizou seu túmulo no prédio modesto, isolado, que aparece nos selos palestinos do Mandato Britânico. Muitas gerações de mulheres muçulmanas, judias e cristãs rezaram ali, pedindo que Raquel as abençoasse com filhos. O prédio já não se vê: o exército israelense cercou-o com cercas e muralhas fortificadas, e o local parece, mesmo, uma cópia feia de fortaleza dos Cruzados.

O prédio em Hebron conhecido como “Caverna de Machpelah” – hoje já não há caverna alguma – também foi preservado pela tradição muçulmana, que o denomina e cultiva como “Mesquita de Ibrahim”. Muitos especialistas da tradição bíblica que creem que a história de Abraão é história, não lenda, creem que a caverna esteja localizada em outro lugar. Também aí muito sangue já correu.

Essa semana houve confrontos nesses dois sítios sagrados. Foram causados por uma decisão de Netanyahu, de incluir os dois sítios numa listagem do “patrimônio sagrado” dos judeus, a serem restaurados pelo governo israelense. Dado que os dois locais são sagrados para muçulmanos, judeus e cristãos, esse ato unilateral nada é além de roubo e flagrande provocação. Se houvesse desejo legítimo de fazer melhorias nos dois locais, teriam de ser feitas por comitê no qual se reunissem representantes dos dois povos e das três religiões.

Há anos, fui convidado pelo falecido e sempre lembrado prefeito de Florença, Giorgio La Pira, para participar de uma oração conjunta com um sacerdote católico, um xeique muçulmano e um rabino judeu na Caverna de Machpelah. Apesar de ser ateu devoto, fui. Naquele dia, passou-me pela cabeça a ideia de que aquele local bem poderia ser símbolo de fraternidade para todos os povos da região.

O amor pela terra, por todos os períodos e locais, sagrados e não sagrados, pode ser base espiritual para a paz e a reconciliação.. Ainda hoje, espero pelo dia em que as crianças dos dois Estados, Israel e Palestina, aprenderão a história da terra onde vivem, e de todos os períodos, em vez de, como se faz hoje, só se ensinar história dos judeus aos judeus e história dos muçulmanos aos muçulmanos. A maravilhosa riqueza da história dessa terra, desde os canaanitas até hoje, criaria laços profundos entre todos.

Mas Netanyahu e seus colonos ocupantes judeus trabalham na direção exatamente oposta: usam parte da história como instrumento e arma de ocupação. Constroem colônias em volta do túmulo da prostituta.

Data de Publicação: 6/3/2010

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