Relatório enviado à ONU revela situação do povo Guarani no Centro-Oeste brasileiro
Fonte: Informe Survival International publicado pelo EcoDebate - Cidadania e Meio Ambiente
A situação dos Guarani no Mato Grosso do Sul, no Centro-Oeste brasileiro é uma das piores de todos os povos indígenas nas Américas, afirma um relatório recém produzido pela Survival International e enviado à ONU.
A publicação do relatório coincide com o Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial, no próximo 21 de março.
Os Guarani sofrem altíssimos índices de suicídio, desnutrição, detenção injusta e alcoolismo, além de serem alvos regulares de pistoleiros contratados por fazendeiros que se apoderaram de suas terras.
A recusa em reconhecer os direitos dos Guarani a suas terras é apontada no relatório como a principal causa dessa situação explosiva na qual se encontram os índios.
O relatório adverte que a crescente demanda por etanol como alternativa à gasolina fará com que os Guarani percam mais terras, agravando ainda mais a situação.
Apesar de viverem em um dos estados mais ricos de um país cuja economia é uma das que mais cresce no mundo atualmente, muitos Guarani vivem em extrema pobreza. Alguns vivem sob tendas na beira de estradas muito movimentadas, outros vivem em ‘reservas’ superpopuladas, onde são dependentes de ajuda do governo.
Uma comunidade Guarani que vive na beira da estrada e já viu três de seus líderes serem mortos por pistoleiros declarou: ‘O atraso excessivo fere nossa paciência, acaba devagar com a nossa vida, nos expõe ao genocídio’.
Stephen Corry, Diretor da Survival, afirmou: ‘Esse relatório expõe a situação estarrecedora na qual se encontram os Guarani. É responsabilidade legal e moral do governo brasileiro assegurar que os abusos de direitos humanos e a discriminação racial sofridos pelos Guarani cessem. Caso o governo não aja com rapidez e eficiência, mais índios Guarani sofrerão e morrerão’.
Alguns dados
1. Violência: os Guarani sofrem violentos ataques e muitos líderes já foram assassinados. 42 índios da etnia foram mortos no Mato Grosso do Sul em 2008 em função de conflitos internos e externos.
2. Suicídio: o índice de suicídio entre os Guarani é um dos mais altos no mundo. Mais de 625 Guarani cometeram suicídio desde 1981 (quase 1.5% da população Guarani) e, em 2005, o índice de suicídio entre os índios dessa etnia foi 19 vezes mais alto do que o índice nacional. Crianças Guarani de apenas nove anos de idade já terminaram com suas próprias vidas.
3. Desnutrição e saúde debilitada: muitos Guarani sofrem de desnutrição, tendo a taxa de mortalidade infantil desse povo indígena atingido mais que o dobro da média nacional. Sua expectativa de vida é bastante reduzida: mais de 20 anos abaixo da média nacional.
4. Detenção injusta: os Guarani são freqüentemente detidos injustamente, com pouco ou nenhum acesso a aconselhamento legal e intérpretes. Eles cumprem ‘penas desproporcionalmente duras por ofensas leves’.
5. Exploração de trabalho manual: muitos Guarani são forçados a trabalhar no corte de cana-de-açúcar para usinas produtoras de etanol, que atualmente ocupam suas terras. Os índios recebem remuneração baixíssima e são submetidos a condições de trabalho sub-humanas.
Baixar o relatório (em inglês ou em português)
Leia sobre esta historia na página Survival na internet (em espanhol): http://www.survival.es/noticias/5670
Nota do EcoDebate: como informação complementar sugerimos que leiam, também, as matérias:
Conselho de direitos humanos constata situação de miséria e preconceito em áreas indígenas em MS
Guarani-Kaiowá. Truculência e omissão. Entrevista especial com Iara Tatiana Bonin
Guarani Kaiowá ocupam terra tradicional à espera de demarcação em Mato Grosso do Sul
Os crimes de ódio contra indígenas no MS não param, por Henrique Cortez
Kaiowá Guarani: um genocídio silencioso?
Dossiê EcoDebate: Demarcação de terras indígenas no Mato Grosso do Sul
Situação do povo Guarani Kaiowá no Mato Grosso do Sul
Cimi denuncia incêndio de moradias de Guarani Kaiowá em Mato Grosso do Sul
Retomada da esperança com os estudos antropológicos para identificação de terras indígenas no MS. Entrevista com Egon Heck
Data da Publicação: 19/03/2010
Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta utilizar o formulário abaixo. O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário