23 de Março de 2010
“Nós não contamos mortos” Foram estas as palavras do Gen.Tommy Franks, o homem que teve a cargo dirigir a invasão dos EUA ao Iraque
Natalia Antelava
Fonte: Uruknet, divulgado pela BBC News| Tradução de F. Macias
Mas mais de seis anos e meio após a invasão, o número de mortos tornou-se num padrão crucial do sucesso ou fracasso do Iraque.
Em Novembro, as autoridades anunciaram que as mortes violentas foram as mais baixas desde 2003. Isso, segundo o governo iraquiano, era uma prova importante do progresso no Iraque.
Oito dias depois desse anúncio, houve cinco explosões maciças quase em simultâneo, em diferentes partes de Bagdade que mataram e feriram centenas de pessoas.
Estes ataques bem coordenados e sofisticados, tiveram como alvo símbolos do estado – não só edifícios governamentais como também universidades e instituições estatais.
As explosões foram muito semelhantes em escala, aos devastadores ataques bombistas de Agosto e de Outubro.
O comandante em chefe e Primeiro-Ministro do país, Nouri-al-Maliki, está agora mais pressionado para estabelecer uma melhor segurança na capital.
Apesar de tudo, é o que as pessoas esperam que ele faça.
Sérias questões
A reputação política do Sr. Maliki baseou-se em grande parte no aparente sucesso em reduzir os níveis de violência que se seguiram ao grande movimento das tropas norte americanas em 2007.
Agora, essa imagem de um homem que podia libertar Bagdad ficou manchada.
Por toda a cidade, enquanto restos de corpos se espalhavam nas áreas das explosões e a angústia se instalava depois do primeiro choque e pânico, algumas questões de gravidade começaram a ser postas.
Uma delas é saber quantas pessoas morreram nas explosões?
O número, de acordo com os media internacionais e independentes iraquianos, é superior a cem, mas o número oficial é 77.
Há muitos exemplos de discrepâncias de números parecidas com esta.
De relance
Dois dias antes dos grandes atentados bombistas, foram disparados explosivos numa escola de Sadr City, um subúrbio xiita de Bagdade.
Fontes policiais disseram-nos que foram mortas seis crianças, mas as autoridades iraquianas disseram que tinha morrido um estudante.
Houve também uma clara diferença na cobertura do acontecimento.
Ele teve um grande destaque na imprensa internacional, mas a TV estatal iraquiana limitou-se a falar dos progressos políticos e conquistas do governo.
Quanto à explosão na escola, falaram dela de relance, nuns curtos 40 segundos mesmo no final do boletim de notícias.
“O governo está a manipular os números”, diz Hindt al-Bedeiri, uma jornalista que escreve para o jornal pró oposição Al-Mashraq.
“Os políticos mentem-nos porque estão nervosos com as eleições. Eles estão a cuidar dos seus próprios interesses. Nós vamos aos locais onde tudo é destruído por bombas – sabemos quantas pessoas realmente morrem “, disse ela.
Números oficiais
Mas o governo insiste que os seus números estão correctos.
“Os órgãos de informação estão interessados em fazer crer que a situação é mais grave do que ela é, e certas redes de comunicações tentam inflacionar os números” diz Saad al-Mutalibi, conselheiro do governo iraquiano.
“Eu acredito nestes números oficiais porque vêm do Ministério da Saúde”.
Por seu lado, as autoridades do ministério da saúde recebem estes números dos hospitais.
Pouco depois dos ataques de terça-feira, a BBC visitou um dos hospitais de Bagdade.
O número total de feridos dado pelo pessoal administrativo, era significativamente mais baixo do que as estimativas fornecidas pelos médicos que recebiam os doentes.
Uma médica, a cirurgiã Tara Barki, disse que acreditava que o governo estava a tentar branquear a violência.
“ Todos os dias há explosões, mas a maioria são pequenas e espalhadas e assim elas ou não chamam a atenção dos media ou são camufladas pelo governo”, disse a Dra.Barki.
‘As mortes têm importância’
Mas o governo nega manipular os números.
“Nós não estamos a mentir, e posso garantir-lhes que o gabinete do Primeiro-Ministro Maliki nunca mentiria sobre os números”, disse o assessor do governo Mr.Moutalibi.
“Não há nenhuma justificação para distorcer este tipo de informação. Era uma falta de respeito. Cada morte, cada pessoa é importante.”
O governo diz que estas explosões não deviam enfraquecer os progressos que ele tem feito.
Em Dezembro, e depois de meses de discussão, os políticos iraquianos finalmente chegaram a acordo em marcar as eleições para o dia 7 de Março.
O acordo foi aclamado como uma grande conquista política, crucial para o futuro do Iraque.
Mas parece que a violência continua a ditar as regras do jogo.
O resultado das eleições, o timing da retirada dos EUA e a capacidade do Iraque em atrair o tão necessário investimento, tudo pode depender da segurança deste país – ou o que se entende por isso
As estatísticas são irrelevantes para as mães que continuam a perder os seus filhos no Iraque.
Mas o que quer que o Gen Tommy Franks tenha dito há quase sete anos, hoje os políticos do Iraque estão de fato a dar importância aos mortos.
quarta-feira, 24 de março de 2010
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