Ações da das Unidades de Polícia Pacificadora violam os mais elementares direitos humanos em áreas pobres da cidade do Rio de Janeiro
Natasha Pitts*
Fonte: Agência Adital
Rio de Janeiro - Na última segunda-feira, dia 8, os moradores do morro da Coroa, no bairro do Catumbi, Rio de Janeiro, região sudeste do Brasil, foram surpreendidos com a atuação desumana da polícia militar. No final da tarde, por volta das 17h, foram registradas mortes, roubos e agressões que tiveram como autores os membros das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP).
O número de policiais não foi identificado, já que estavam divididos em equipes. Nas primeiras horas da operação no morro uma das equipes foi responsável pela morte de dois jovens, que, após serem baleados foram arrastados ainda com vida deixando marcas de sangue pelas ruas. Os jovens morreram no hospital e a polícia alegou que houve resistência. Os espectadores da cena de brutalidade confirmaram que não houve qualquer tipo de confronto ou resistência por parte dos dois jovens.
Outro ato cruel registrado na mesma tarde foi o arrombamento de uma casa e várias agressões e roubo contra o morador, um jovem garçom que descansava no dia de sua folga. "A polícia meteu o pé na porta e deixou um buraco de uns 25 cm. O rapaz foi puxado por esse buraco e depois levado para a casa do vizinho. A polícia barbarizou nesse lugar com ele e a família que estava na casa. O rapaz receber da polícia uma tapa e um soco que rasgou seu rosto logo abaixo do olho", contou Macário dos Santos, tio da vítima.
Macário contou ainda que esta não foi a primeira vez que a atuação cruel da polícia atingiu sua família. No dia 2 de abril do ano passado, Josenilson dos Santos, irmão de Macário, foi morto, também do Morro da Coroa, por policiais do 1° Batalhão de Polícia Militar quando ia comprar cigarros. A família foi em busca de justiça e o julgamento dos policiais acusados deverá acontecer no próximo dia 9 de março.
"Um dos policiais que participou da execução do meu irmão também estava naquele dia no morro da Coroa e reconheceu a família. Depois disso passamos a sofrendo ameaças. No momento em que meu sobrinho foi registrar a ocorrência e fazer o exame de corpo de delito alguns policiais envolvidos nas agressões no morro tentaram intimidar meu sobrinho para que ele não fizesse a denúncia. Enquanto nossa família é ameaçada eles ficam soltos e trabalhando como se nada tivesse acontecido", relata Macário.
Pouco depois do início da barbárie no morro da Coroa, moradores entraram em contato com militantes da Rede de Comunicadores e Movimentos Contra a Violência que começaram a fazer outros contatos com autoridades públicas e organizações de direitos humanos. Durante a operação policial, o Ministério Público, a Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) e também o Comando Geral da PM tomaram conhecimento dos fatos. Segundo informações da Rede, após estes contatos os policiais foram embora do morro.
Após o episódio, a população do morro carioca fez reivindicações e passeatas em frente ao Batalhão da PM, Gabinete do Governador, Fórum e Ministério Público. Ainda assim, não há indícios de que algo será feito para punir os policiais e mandantes responsáveis pelas mortes, agressões, roubos e desrespeito.
"Como o governo quer cobrar que haja paz nos morros se ele próprio encobre a violência e tentar maquiar os fatos? O Estado tem respondido a violência com a violência. Quando acontece alguma coisa no asfalto a polícia sobe em qualquer morro e mata uma dúzia de pessoas. Os moradores dos morros são na maioria trabalhadores. Nós precisamos é de saúde, educação e dignidade. O que fazem com a gente não é brincadeira. Eles só querem saber do Pan e estão colocando a sujeira para debaixo do tapete. A justiça vai ter que ser feita", encerra Macário.
(*) Jornalista da Adital
Data de Publicação: 12/02/2010
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