Como a mídia conservadora manipula em causa própria*
Mário Augusto Jakobskind
Por que os jornalistas devem se posicionar sobre o processo de criminalização da mídia hegemônica contra os movimentos sociais, em especial o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra? A resposta é concreta. Todo o noticiário em relação ao MST vem sendo manipulado. É só ler os principais jornais do país e ver o noticiário de todos os canais de televisão. O papel dos jornalistas é questionar, sobretudo as “verdades” apresentadas pelas mais diversas mídias.
Quem tiver este espírito poderá pesquisar o motivo pelo qual o noticiário sobre a questão agrária anda de braços dados com a bancada ruralista no Congresso. Basta conhecer alguns sites empresariais, como, por exemplo, o da Associação Brasileira do Agronegócio (http:/www.bag.com.br) e clicar nos “associados”. Ali estarão, junto com inúmeras empresas multinacionais, como a Monsanto, Bayer e Syngenta, entre outras, a Globo Comunicação e Participações, bem como a Agência Estado. As duas empresas da área de comunicação não estão lá à toa. Tem interesses em jogo. Você verá também que o colunista global Arnaldo Jabor este ano foi um dos palestrantes no congresso do setor. Será por que?
Estes fatos simplesmente fazem cair por terra a tão propalada imparcialidade de órgãos de imprensa, que se arvoram em defensores contumazes da liberdade de imprensa e expressão.
Na questão agrária, tais mídias apresentam fatos distorcidos sobre a questão da violência no campo e culpam o MST. Mas quem é o mais prejudicado com a violência? Os trabalhadores Sem Terra ou os predadores da natureza representados pelo setor do agronegócio?
A mídia conservadora, que por questão de interesses econômicos está ao lado do agronegócio em detrimento da agricultura familiar, simplesmente omite a informação divulgada recentemente pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), um organismo da Igreja Católica com importante atuação em vários Estados brasileiros. Segundo a CPT, em seis meses, de janeiro a junho de 2009, ocorreram, pelo menos, 366 conflitos nos campos brasileiros. Registrou-se nesse mesmo período um assassinato para cada 30 conflitos, uma tentativa de assassinato para cada oito conflitos, um torturado a cada 61 conflitos; um preso a cada quatro conflitos, 1,5 famílias expulsas a cada conflito por terra e 18 despejadas. Em anos anteriores os números variaram pouco para mais ou para menos.
No recente episódio da Cutrale,uma multinacional que exporta laranjas e ocupou ilegalmente terras públicas, foi apresentada como vítima de uma ação do MST feita exatamente para chamar a atenção da opinião pública sobre como age impunemente uma empresa do agronegócio. A bancada ruralista aproveitou a manipulação informativa sobre o fato para conseguir a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o MST, por sinal, algo já feito em outra ocasião e sem conseguir apresentar prova alguma contra o mais importante movimento social brasileiro reconhecido internacionalmente.
Deu para entender porque não podemos silenciar?
(*) Edição de novembro-dezembro de O Jornalista, órgão oficial do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro
sábado, 21 de novembro de 2009
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