Último "ente cívico" da política brasileira, Leonel Brizola, não obteve o crédito de confiança necessário dos eleitores brasileiros para se eleger Presidente, perdendo-se uma oportunidade de retirar o poder da avenida Paulista
Marco Poli
Fonte: Blog Capital Gaúcha
Há 6 anos morria o último "ente cívico" deste país. Leonel de Moura Brizola, um menino retirante da pobreza do interior do Brasil, que chegou à Capital Gaúcha ainda imberbe e só, que começou a arrumar um troco abrindo porta de táxi aos passageiros que aguardavam em fila no ponto do Centro da cidade e depois arrumou emprego de ascensorista no elevador da Galeria Chaves, onde condicionaram o pagamento do salário à apresentação do boletim escolar, como garantia de que não deixaria de estudar. Em função disso terminou por formar-se engenheiro e, na escola pública, aprendeu que a política era o meio da mudança necessária para diminuir a diferença num país de desiguais.
Construiu centros desportivos populares quando prefeito, mais de 6mil escolas quando governador do RS e, caso único no Brasil, elegeu-se governante em outro estado, o Rio, onde implantou o maior e melhor sistema de ensino público de qualidade da história do país, os CIEPS, já devidamente desfigurados por seus sucessores/detratores que preferem não dar chances iguais às camadas mais baixas da sociedade.
Passava 24h por dia pensando o Brasil e de como desamarrar o atraso sistemático de nossa população e sabia que se localizava na educação a chave para essa diferença. Afinal, quando começou a construir escolas para as crianças gaúchas, o Rio Grande ostentava inacreditáveis 53% de índice de analfabetos. Uma geração depois os gaúchos conviviam com menos de 10% de sua população sem acesso às letras. Em função dessa luta constante pelo aprimoramento da inteligência nacional, era chamado pelo antropólogo e filósofo Darcy Ribeiro de "ente cívico". O mundo perdeu o político que mais investiu em educação, segundo dados oficiais apresentados por sua biógrafa, a neta Juliana.
Os brasileiros decidiram, através do voto, não dar a Brizola a chance de governar nosso país. Seria a última chance de retirar a centralização vergonhosa do poder na avenida Paulista, onde tudo se decide, numa concentração de poder que chega a amealhar para seus barões 95% do PIB, claro, da parte que o governo central não nos subtrai. Por isso aqueles senhores bancaram um golpe de Estado em 1964 e urdiram em sua estufa a criação de partidos aparentemente de esquerda como PT e PSDB, que não saem mais do poder, partilhando o quinhão que os senhores de um feudo que inicia no Paraíso mas termina na Consolação lhes concedem, cabendo à população do resto desse país as migalhas.
Ao perder essa derradeira chance para descentralizar o poder, o Rio Grande sumiu de qualquer projeção de importância no cenário nacional e o Rio deixou de ser a Corte, não passando hoje de vitrine da periferia brasileira. Sob a sombra da derrocada do plano educacional de turno integral criado por Brizola, cresceu a fortaleza do tráfico e da incontrolável violência que vivem os cariocas deste século. Foi uma pena não termos dado a esse pobre retirante de Carazinho a chance de governar nosso país, só pra ver se faria a revolução que mais necessitamos que é a de oferecer condições verdadeiras para que os tão decantados excluídos tenham uma chance real de lutar por um lugar ao sol.
Data de Publicação: 21.6.2010
segunda-feira, 21 de junho de 2010
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