Um "perigosa" suspeita de ser terrorista

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Menina de 6 anos no index dos EUA

Seleção argentina apoia Avós da Pça. de Mayo para o Nobel da Paz

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Seleção de Maradona é politizada

Matéria paga censurada pelo Financial Times

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Grande imprensa britânica não se comporta democraticamente

Barão de Itararé

Barão de Itararé
Pai da imprensa alternativa, um batalhador de causas justas e muito bem humorado

Crianças palestinas acorrentadas

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A foto fala por si só

Piñera y al fondo su mentor

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Será coincidência?

Manchete de jornal venezuelano em 1992

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El Nacional informa

Ministro Jobim não se dá ao respeito

Ministro Jobim não se dá ao respeito
Em traje de campanha, Ministro da Defesa se exibe para a mídia

Personagens da época da Guerra Fria

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EUA patrocinou o golpe que derrubou Jango

Ingerência da CIA na Colômbia

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Uribe acabou e agora faz falta um outro de melhor aparência

Uribe no fim de linha

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Presidente colombiano é marionete dos EUA

Coca Colla boliviana

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Refrigerante competirá com a Coca-Cola na Bolívia

A importância da agroecologia

A importância da agroecologia
Transgêniucos prejudicam a agroecologia

Uma publicação sintonizada no seu tempo

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New Left Review

Plataforma Ocean Guardian

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Objetivo é encontrar um mar de petróleo nas Malvinas

Cutrale a, a multinacional que tudo pode

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Alerta de Latuff

Uma visão sobre a impunidade

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O desejo de muitos brasileiros

Mais arte popular desconhecida do Haiti

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Visão de mulheres trabalhadoras haitianas

A pouco conhecida arte do Haiti

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As riquezas da cultura do Haiti

General Lazaro Cardenas y Fidel em 1959

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america latina

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a gente não se despede de mario benedetti

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um escritor imortal

boris casoy

boris casoy
boris para o lixo

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

(Brasil - Soberania) - Carta Aberta aos Magistrados Brasileiros

Cineasta brasileiro historia os anos 70 na história e sugere que o Brasil não se dobre às presões do caso Batistti
Sílvio Tendler

Paira sobre Cesare Battisti o mistério que cerca sua história. Existem muitas lacunas sobre os fatos. Somos tratados como duzentos milhões de pobres coitados que temos que nos curvar diante da vontade da Itália soberana.

O caso Battisti, sua história de refugiado começa quando é acolhido na França de Mitterrand, torna-se escritor e vive em paz. A França vira à direita, a Itália pedindo a extradição e Battisti é expulso "à la française" para atender à pressão Italiana: não extradita, mas estimula "a fuga". Dá o passaporte e os meios para a fuga. Tudo providenciado pelo serviço secreto francês que monitora a viagem. O Brasil acolhe um perseguido, como sempre fez ao longo dos tempos. A França inicia o jogo da batata quente.

Battisti é preso como tantos outros italianos perseguidos que se refugiam aqui. Os outros foram libertados. Battisti vira questão de honra e termina refém de um conflito de poderes que termina numa salda surrealista: O STF vota pela expulsão, mas devolve ao Presidente da República o poder decisório.

O Presidente da República em seu último dia de governo toma a atitude que parecia justa e a mais adequada dentro das tradições brasileiras, a de conceder refúgio aos perseguidos por razões políticas. Prerrogativa constitucional e reconhecida pelo STF, que mesmo acreditando que Battisti deveria ser extraditado devolveu o poder de decisão ao Presidente da República. O jogo da batata quente continua.

O presidente do STF puxa de novo o poder decisório para o tribunal atendendo à pressão italiana. O suspense está no ar. O Presidente Italiano manda uma carta a Presidente Dilma Rousseff pedindo a extradição. A Presidente responde que a decisão está nas mãos do STF. A Presidente Dilma devolve a batata quente ao Supremo.

A Itália, berço do direito, hoje não tem sede de justiça, mas desejo de vingança e vem transformando Cesare Battisti na fera a abater.

A Itália que quer se vingar de sua própria história (sim, o caso Battisti é um caso de vingança histórica) não é a Itália de Dante mas a Itália que durante o pós guerra afogou-se em escândalos e conluios entre a máfia e o fascismo que destruiu partidos e dirigentes políticos em escândalos de corrupção e que levou milhares de jovens italianos ao desespero político, encontrando como única porta de saída a resistência armada. E o Brasil vem sendo fustigado, intimidado e ameaçado como se fosse uma republiqueta centenária desafiando a milenar cultura italiana.

Para os que pretendem entender aqueles tempos tumultuados da história política da Itália, recomendo assistir a "Cadáveres Ilustres" (1976), do mestre Francesco Rossi baseado em obra homônima do escritor Leonardo Sciascia. O filme aborda a crise da democracia Italiana e trata do assassinato do secretário geral do Partido Comunista Italiano. A mais pura ficção. A crise do estado italiano está ali no romance e no filme denunciando a conspiração entre políticos, magistrados e militares contra o Estado democrático.

Pouco tempo depois, a história, a de verdade, registrava a tragédia do sequestro e assassinato do democrata cristão Aldo Moro.

Este assassinato quase pôs a pique a democracia italiana. A direção da democracia cristã e a do Partido Comunista recusam-se em negociar com os ensandecidos das Brigadas Vermelhas, alegando a "defesa do Estado Democrático", como se a vida de um homem valesse menos do que um princípio. Além da vida de Moro, o episódio custou muito caro à democracia italiana.

A podridão do ambiente político italiano terminou culminou com a dissolução da própria Democracia Cristã e do Partido Comunista.

A crise italiana daquele período pós-guerra e marcada por feridas ainda não cicatrizadas que desembarcam no governo Berlusconi o que exige uma reflexão maior e pede uma revisão histórica urgente. Não é esse nosso papel aqui. Estamos à beira do julgamento que decidirá o futuro de um homem, o que já é muito.

Nós, os brasileiros, continuamos absolutamente desinformados sobre a história desse homem que terá seu destino determinado por um gesto nosso. E olha que ele já está preso por aqui desde 2007, tempo mais do que suficiente para mandar uma missão para investigar na Itália a verdadeira história de um julgamento cheio de lacunas e cantos escuros. Só quem desconhece a história italiana dos anos 70/80 é que compra sem reticências a versão do governo italiano. A mídia comprou a versão italiana e publica acriticamente tudo que chega de lá. A última bazófia tornada pública foi a de que a Comunidade Européia aprovou com 86% dos votos uma moção recomendando ao Brasil que extraditasse Battisti. A realidade foi bem diferente: À sessão compareceram apenas 11% dos parlamentares, a imensa maioria, de italianos. E repercute como se houvesse uma grande unanimidade em torno da extradição de Battisti.

Cesare Battisti foi acusado de cometer dois crimes a 400 kms de distância um do outro, com poucas horas de diferença, no mesmo dia. Ninguém foi questionar a veracidade da informação. Inexplicável mesmo é que ninguém se interesse em saber a versão de Pietro Mutti, o "capo" das Brigadas Vermelhas e principal acusador de Battisti. Onde está? O que faz hoje em dia? Os outros delatores são encontráveis, como Cavallina e o segundo principal delator se chama Sante Fatone e agora mora na Calábria. Talvez esse também possa ser encontrado.

Em sua cela na Papuda, penitenciária de Brasília, Cesare Battisti aguarda a decisão sobre seu destino que tanto poderá ser a liberdade, as ruas, o convívio com a família, amigos, a reintegração na sociedade ou a prisão até a eternidade, a liberdade ou a prisão perpétua (pena que não existe no Brasil). A realidade é bem mais dura do que a ficção, até porque Battisti não é um personagem de papel, mas de carne e osso, nervos e sentimentos.

Vejo Battisti em sua cela e viajo em tantos outros injustiçados da história: Giordano Bruno, Antonio José da Silva, o judeu, Tiradentes, o capitão Dreyfus, Sacco e Vanzetti, Ethel e Julius Rosenberg, Elise Ewert, Olga Benário.

Insisto: não estamos discutindo justiça, mas vingança.


Data de Publicação: 31.01.2011

domingo, 30 de janeiro de 2011

(Brasil - Direitos Humanos) - O Holocausto e nós

O governo alemão não esconde o passado e condena as atrocidades cometidas pelos nazistas, mas nas escolas militares brasileiras se enaltece o golpe de 64 que também provocou violaóes constantes aos direitos humanos

Flavio Tavares*



Fonte: Zero Hora


A celebração, dias atrás, em Porto Alegre, em memória do extermínio de judeus pelos nazistas durante os anos do domínio de Hitler na Alemanha e na Europa, leva-me a interrogar sobre a hipocrisia da política e da diplomacia e, mais ainda, sobre o medo que guia o comportamento humano.



Sim, pois de 1933 (quando Hitler subiu ao poder) até 1945 (quando suicidou-se em Berlim), passaram-se 12 anos sem que se falasse abertamente do massacre de judeus e ciganos pelo fato de serem judeus e ciganos. Já em 1942, a aviação anglo-americana bombardeou a Alemanha e numa só noite, por exemplo, incendiou Hamburgo com bombas de fósforo, matando 40 mil civis. Nunca, porém, bombardearam as ferrovias que levavam aos campos de extermínio, localizados (na maioria) junto a cidades alemãs de porte médio. Todos tinham imensas chaminés para cremação de corpos, mas nenhum civil alemão pressentiu o cheiro da morte.



Os documentários que os canais de História exibem até hoje na TV mostram tropas russas, inglesas e norte-americanas (em 1945) levando os constrangidos habitantes locais a conhecerem o horror que ignoravam – milhares de cadáveres insepultos de prisioneiros mortos por inanição ou assassinados em massa e às pressas ao final da guerra.



Desconheciam por nada saber ou por fingir que nada sabiam?



O medo, só o medo erigido como única fonte e único fim do Estado pode explicar que o culto povo alemão tenha sustentado a ditadura de Hitler e tomado o crime aberrante como natural. Foi preciso uma guerra mundial (que envolveu diretamente o Brasil), com toda a loucura das guerras, para pôr fim à demência nazista da “supremacia da raça ariana”, ponto de partida para a matança de 6 milhões de judeus na Europa – todos civis, crianças e mulheres incluídas.



Como grupo, só os judeus recordam o que toda a humanidade deveria rememorar a cada ano, ou a cada dia, para evitar a repetição de horror similar. Estamos ainda sob o impacto do século 20, de suas misérias e proe-zas, utopias e frustrações. No fundo, somos ainda governados pelo século passado – século da penicilina, da bomba atômica e da aids; da lei da relatividade e da poluição ambiental –, mas muitas vezes nos inibimos com o que nos deixou.



No Brasil, silenciamos sobre os crimes cometidos durante a ditadura militar. O golpe de Estado de 1964 foi a mais atroz marca política do século, mas nas escolas militares é apontada como “gesto heroico”. A repetição dessa mentira tem como base a mesma fantasia que, hoje, leva corruptos e corruptores a ocuparem altos postos nos governos. A verdade não chega à proximidade do poder.



Na celebração do Holocausto judaico em Porto Alegre, o cônsul** alemão no Rio Grande do Sul rendeu homenagem àqueles 6 milhões assassinados há mais de meio século pelo governo de seu país. “Uma atitude de reverência”, lembrou. De fato, reverência à verdade histórica. Ou alguém imaginaria um representante do governo da democrática Alemanha atual defendendo os crimes do governo de Hitler?



No poder ou fora dele, os alemães de hoje não se inibem em distanciar-se do terror do governo alemão de ontem. Entre nós, ao contrário, alguns setores minoritários teimam em aferrar-se ao passado atroz e odioso, sem repudiar os delitos da ditadura.



Para a ditadura nazista, os judeus eram abjetos inimigos a aniquilar só por serem judeus. Aqui, na ditadura surgida em 1964, quem lutasse pela liberdade da democracia era desprezível inimigo a aniquilar.



*Jornalista e escritor

Data de Publicação:  30 01 2010


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(Israel - Política) - Uma democracia de mentira

Parlamento de Israel aprova criaçao de comissão especial para investigar israelenses de esquerda que denunciam atrocidades do Exército contra palestinos



Mario Augusto Jakobskind


Fonte: Direto da Redação 

Enquanto sobe o tom da voz rouca nas ruas da Tunísia, do Egito, do Iêmen, da Argélia, do Marrocos e da Jordânia, em Israel, o país considerado pelo senso comum com uma democracia, nestes dias ocorreu a criação de uma comissão especial para investigar as atividades de cidadãos e grupos de esquerda.

No mais puro macarthismo, a extrema direita israelense, estimulada pelo Ministro do Exterior Avigdor Lieberman, uma figura nefasta e fascista, está vomitando ódio não apenas contra os palestinos, mas também contra israelenses de esquerda que, envergonhados, denunciam uma série de violações dos direitos humanos cometidas contra os palestinos. Os extremistas guiados por Lieberman acusam de “financiados por terroristas” os grupos progressistas israelenses que denunciam a ação do Exército nos territórios palestinos.

A mesma extrema direita israelense mais uma vez utilizou-se do Holocausto, lembrado no Dia 27 de janeiro, para aparecer como vítima. De fato são seis milhões de judeus assassinados pelo nazismo na II Guerra, juntamente com outros segmentos como ciganos, eslavos, comunistas, socialistas, homossexuais, seres humanos com problemas mentais etc.

Realmente, o Holocausto ser lembrado por extremistas como Lieberman, Benyamin Netanyahu e outros do gênero, é não apenas uma hipocrisia, como até mesmo ofensivo às próprias vítimas da bestialidade nazifascista do século passado. Exatamente porque, segundo denúncias dos próprios israelenses, estão vestindo a camisa do opressor de ontem, os nazistas.

Quem imaginava que isso pertencia ao passado, engana-se. Lieberman e Netanyahu são exemplos concretos de que o ideário extremista continua vivo. O Ministro do Exterior de Israel, egresso da extinta União Soviética, pregou em várias ocasiões uma solução final contra os palestinos e manifesta claramente ódio aos árabes. .

Quem veste a camisa do racismo não tem condições morais de falar em Holocausto, no caso de Lieberman & Netanyahu, aproveitando o sentimento de repulsa da humanidade pela barbárie da II Guerra Mundial para usá-la em proveito de uma ideologia que prega também o ódio e a exclusão do outro.

Imbuída pelo sentimento de repulsa pelo que o governo Netanyahu continua a fazer com os palestinos, inclusive os residentes no território israelense, considerados pelas autoridades sionistas na prática como cidadãos de segunda classe, a esquerda israelense não se cala, exatamente para mostrar ao mundo que há repúdio interno em relação às atrocidades contra os palestinos.

A resposta foi dada pelo Parlamento, onde a direita tem maioria e, como afirma o jornalista israelense Gideon Levy, do jornal Haaretz, “o que este governo está fazendo ruborizaria até (Joseph) McCarthy”, o senador estadunidense que promoveu uma caça às bruxas nos anos 50.

Como temas desta natureza dificilmente são apresentados nos jornalões e telejornalões, não só do Brasil como pelo mundo afora, é necessário que a opinião pública seja informada do que está acontecendo em Israel e nos territórios palestinos, isso para evitar que o atual governo extremista de Netanyahu &Lieberman e outros do gênero continue levando adiante na prática a eliminação do outro, ou seja, do povo palestino. O jornal Brasil de Fato foi o único por estas bandas a informar a vergonhosa caça às bruxas.

Por sinal, mais dois países da América Latina, o Paraguai e o Peru, acabaram de reconhecer o país Palestina com as fronteiras de 1967, somando-se ao Brasil, Argentina, Uruguai, Equador, Bolívia etc. Os respectivos governos, alguns não de esquerda, não se dobraram as pressões do lobby sionista.

Enquanto isso, depois dos tunisinos terem mandado para o lixo o ditador-ladrão Ben Ali, os egípcios estão dando o claro recado de que não suportam mais Hosny Mubarak e o seu regime corrupto e autoritário, que além de governar o país com mão de ferro há mais de 30 anos é o principal responsável pelo arrocho salarial, pobreza e desemprego, para não falar da subserviência aos Estados Unidos, que banca o governo com uma polpuda mesada de 1,3 bilhões de dólares anuais para se alinhar a Washington.

A voz rouca das ruas no Egito e Tunísia é clara: chega de ditaduras, de submissão ao Fundo Monetário Internacional, que em 2007, juntamente com o Fórum Econômico Mundial para a África, considerava o país do ex-ditador Ben Ali o mais competitivo do continente, mais inclusive do que a África do Sul. E tudo isso com a chancela dos sucessivos governos estadunidenses nos últimos 30 anos.

Embora os povos tenham perdido o medor da violenta repressão há também o perigo dos ditadores abandonarem o cargo, mas o regime continuar o mesmo, havendo apenas uma troca do seis pelo meia dúzia. Daí Mubarak nomear pela primeira vez em 32 anos um vice, o chefe da inteligência, Omar Suleiman. Pode ser até que esteja preparando o terreno para cair fora e deixar em seu lugar alguém que mantenha o mesmo esquema de dominação que levou os jovens a ir para as ruas protestar e pedir o fim do regime chancelado pelo Ocidente.

Quando este artigo estava sendo elaborado veio a informação do Cairo sobre a proibição do canal da Al Jazeera de atuar no Egito. Coisas de uma ditadura. Resta saber se as entidades internacionais que se consideram defensoras da liberdade de imprensa vão protestar. E o que dirão os governos ocidentais?


Data de Publicação: 30.01.2011

(Egito - Política) -Uma ditadura a um passo da morte

Jornalista britânico  que cobre há anos o Oriente Médio relata a mobilização popular dos egípcios contra Hosny Mubarak

 Robert Fisk


Fonte: The Independent, UK
http://www.independent.co.uk/opinion/commentators/fisk/robert-fisk-egypt-death-throes-of-a-dictatorship-2198444.html



Os tanques egípcios, os manifestantes em delírio sentados sobre eles, as bandeiras, os 40 mil manifestantes lacrimejando e gritando vivas na Praça da Liberdade e rezando à volta dos tanques, um membro da Fraternidade Muçulmana sentado entre os ocupantes do tanque. Pode-se talvez comparar à libertação de Bucareste? Subi eu também sobre um tanque de combate, e só conseguia pensar naqueles maravilhosos filmes da libertação de Paris. A apenas algumas centenas de metros dali, os guardas da segurança de Mubarak, nos uniformes pretos, ainda atiravam contra manifestantes perto do ministério do Interior. Foi celebração selvagem de vitória histórica, os tanques de Mubarak libertando a capital de sua própria ditadura.



No mundo de pantomima de Mubarak – e de Barack Obama e Hillary Clinton em Washington –, o homem que ainda se diz presidente do Egito deu posse a um vice-presidente cuja escolha não poderia ter sido pior, na tentativa de aplacar a fúria dos manifestantes – Omar Suleiman, chefe-negociador do Egito com Israel e principal agente da inteligência egípcia, 75 anos de idade e muitos de contatos com Telavive e Jerusalém, além de quatro ataques cardíacos. Não se sabe de que modo esse velho apparatchik doente conseguiria enfrentar a fúria e a alegria de 80 milhões de egípcios que se vão livrando de Mubarak. Quando falei a alguns manifestantes ao meu lado sobre o tanque, da nomeação e posse de Suleiman, houve gargalhadas.



Os soldados que conduzem os tanques, em uniforme de combate, sorridentes e às vezes aplaudindo os passantes, não fizeram qualquer esforço para apagar das laterais dos tanques os graffiti ali pintados com tinta spray. “Fora Mubarak! Caia fora, Mubarak!” e “Mubarak, seu governo acabou” aparecem grafitados em praticamente todos os tanques que se veem pelas ruas do Cairo. Sobre um dos tanques que circulavam pela Praça da Liberdade, vi um alto dirigente da Fraternidade Muçulmana, Mohamed Beltagi. Antes, andei ao lado de um comboio de tanques próximo de Garden City, subúrbio do Cairo, onde as multidões subiram aos tanques para oferecer laranjas aos soldados, aplaudindo-os como patriotas egípcios. A nomeação ensandecida e sem sentido de um vice-presidente [o primeiro, em 30 anos, e nomeação que significa que Mubarak desistiu de nomear o filho para substituí-lo no poder (NTs)] e a formação de um ‘novo’ Gabinete sem poder algum, constituído só de velhos conhecidos dos egípcios, evidenciam que as ruas do Cairo viram e veem o que nem os estrategistas e políticos dos EUA e da União Europeia souberam ver: que o tempo de Mubarak acabou.



As frágeis ameaças de Mubarak de que empregará repressão violenta em nome do bem estar dos egípcios – quando já se sabe que a sua própria polícia e suas milícias são responsáveis pelos ataques mais violentos dos últimos cinco dias – só geraram ainda mais fúria entre os manifestantes, vítimas de 30 anos de ditadura várias vezes muito violenta. Crescem as suspeitas de que os piores ataques da repressão foram executados por milícias não uniformizadas – inclusive o assassinato de 11 homens numa vila do interior do país nas últimas 24 horas –, tentativa de dividir o movimento e criar suspeitas contra as intenções democratizantes das manifestações contra o governo de Mubarak. A destruição dos centros de comunicações por grupos de homens mascarados – que se suspeita que tenha sido ordenada por alguma agência da segurança de Mubarak – também parece ter sido obra das milícias não uniformizadas que espancaram manifestantes.



Mas o incêndio de postos policiais no Cairo, Alexandria, Suez e outras cidades não foram obra daquelas milícias. No final da 6ª-feira, a 40 milhas do Cairo, na estrada para Alexandria, havia grandes grupos de jovens em torno de fogueiras acesas no meio da estrada e, quando os carros paravam, eram assaltados; os assaltantes exigiam dólares, sempre muitos, em dinheiro. Ontem pela manhã, homens armados roubavam carros, de dentro dos quais arrancavam motoristas e passageiros, no centro do Cairo.



Infinitamente mais terrível foi o vandalismo contra o Museu Nacional do Egito. Depois que a polícia abandonou o serviço de segurança do museu, houve invasão de saqueadores e vândalos, que roubaram ou destruíram peças de 4 mil anos, múmias e peças de madeira esculpida de valor inestimável – barcos, esculpidos com todos os detalhes e a tripulação, miniaturas magníficas, feitas para acompanhar os faraós na viagem pós-morte. Vitrines que protegiam trajes milenares foram quebradas, os guardas pintados de preto arrancados e depredados. Outra vez, é preciso registrar que há boatos de que os próprios policiais destruíram o museu, antes de fugir na 6ª-feira à noite. Lembrança fantasmagórica do museu de Bagdá em 2003. Bagdá foi pior, a destruição foi mais total, mas mesmo assim foi terrível o desastre do museu do Cairo.



Em minha jornada noturna da Cidade 6 de Outubro até a capital, tive de diminuir a velocidade várias vezes, porque a estrada está cheia de restos de veículos queimados. Havia destroços e vidros quebrados pela estrada, e muitos policiais armados, com rifles apontados para os faróis do meu carro. Vi um jipe semidestruído. Os restos do equipamento da polícia antitumulto que os manifestantes expulsaram da cidade do Cairo na 6ª-feira. Os mesmos manifestantes que, ontem à noite, formavam círculo gigantesco em torno da Praça da Liberdade para rezar. Gritos de “Allah Alakbar” trovejavam pela cidade no ar da noite.



Há também quem clame por vingança. Uma equipe de jornalistas da rede al-Jazeera encontrou 23 cadáveres em Alexandria, aparentemente assassinados pela polícia. Vários tinham os rostos horrivelmente mutilados. Outros onze cadáveres foram encontrados no Cairo, cercados por parentes que gritavam por vingança contra a polícia.



No momento, Cairo salta em minutos da alegria para a mais terrível fúria. Ontem pela manhã, andei pela ponte do rio Nilo e vi as ruínas do prédio de 15 andares onde funcionava a sede do partido de Mubarak, que foi incendiado. À frente, um imenso cartaz pregava os benefícios que o partido trouxe ao Egito – imagens de estudantes formados bem sucedidos, médicos e pleno emprego, promessas que o governo de Mubarak sempre repetiu e jamais cumpriu em 30 anos – emoldurados pela fuligem, semiqueimados, pendentes das janelas enegrecidas do prédio. Milhares de egípcios andavam pela ponte e pelos acessos laterais para fotografar o prédio ainda fumegante – e muitos saqueadores, a maioria velhos, que tiravam de lá mesas e cadeiras.



No instante em que uma equipe de televisão escocesa preparava-se para filmar as mesmas cenas, foi cercada por várias pessoas que disseram que não tinham o direito de filmar os incêndios, que os egípcios são povo orgulhoso que não roubaria nem saquearia. O assunto foi discutido várias vezes ao longo do dia: se a imprensa teria ou não o direito de divulgar imagens sobre essa “libertação”, que veiculassem ideias menos dignas do movimento. Mesmo assim, os manifestantes mantinham-se cordiais e – apesar das declarações acovardadas de Obama, na 6ª-feira à noite – não se viu nenhum, nem qualquer mínimo sinal de hostilidade contra os EUA. “Tudo que queremos, tudo, exclusivamente, é que Mubarak vá-se daqui, que haja eleições que nos devolvam a liberdade e a honra” – disse-me uma psiquiatra de 30 anos. Por trás dela, multidões de jovens limpavam o leito da rua, removendo restos de veículos e barreiras postas nas intersecções e esquinas – releitura irônica do conhecido ditado egípcio, de que os egípcios nunca varrerão as próprias ruas.



A alegação de Mubarak, de que as atuais demonstrações e atos de delinqüência – a combinação foi tema do discurso em que Mubarak declarou que não deixaria o Egito – seriam parte de um “plano sinistro” é evidentemente o núcleo de seu argumento, na tentativa de não perder o reconhecimento mundial.



De fato, a própria resposta de Obama – sobre a necessidade de reformas e o fim da violência – foi cópia exata de todas as mentiras que Mubarak sempre usou para defender seu governo durante 30 anos. Os egípcios riram de Obama – inclusive no Cairo, depois de eleito – quando exigiu que os árabes abraçassem a liberdade e a democracia. Mas até essas aspirações sumiram completamente quando, na 6ª-feira, Obama assegurou seu desconfortável e incomodado apoio ao presidente egípcio. O problema é o de sempre: as linhas do poder e as linhas da moralidade em Washington jamais convergem quando os presidentes dos EUA têm de lidar com o Oriente Médio. A liderança moral dos EUA cessa de existir quando há confronto declarado entre o mundo árabe e Israel.



E o exército egípcio, desnecessário lembrar, é parte da equação. Recebe de Washington mais de 1,3 bilhão de dólares de auxílio anual. O comandante desse exército, general Tantawi – que casualmente estava em Washington, quando a polícia tentava esmagar os manifestantes – sempre foi muito amigo, pessoal, íntimo, de Mubarak. Não é bom sinal, parece, pelo menos no futuro imediato.



Assim, a “libertação” do Cairo – onde houve notícias, ontem à noite, de saques no hospital Qasr al-Aini – ainda tem a andar, até a consumação. O fim pode ser claro. A tragédia ainda não acabou.



Data de Publicação: 30/1/2011

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

(EUA- Geopolítica) O grande jogo de Barack Obama

Governo dos EUA traça estratégia com riscos de sua política externa com aliança preferencial da Rússia


José Luis Fiori


Fonte:http://www.rumosdobrasil.org.br


Nos últimos dois meses de 2010, o presidente Barack Obama tomou decisões e obteve vitórias internacionais que poderão mudar radicalmente a geopolítica mundial do Século XXI. Graças à intervenção direta do presidente americano, a reunião da OTAN, em Lisboa, no mês de novembro, conseguiu aprovar um “Novo Conceito Estratégico” que define as diretrizes da organização para os próximos dez anos, com a previsão de retirada de suas tropas do Afeganistão, até 2014, e com decisão de instalar um novo sistema de defesa antimísseis da Europa e dos EUA, com a possível inclusão da Rússia e da Turquia, apesar da resistência do governo turco a cooperar com os países que estão obstaculizando sua entrada na UE. Esta vitória parcial do governo Obama, se somou à aprovação pelo Congresso americano, em dezembro, do acordo bilateral de controle de armas atômicas, que havia assinado com o presidente Dmitry Medvedev, no mês de abril, e que foi ratificado pelo parlamento russo, poucos dias depois de sua aprovação pelo Senado dos EUA. Estas iniciativas enterram definitivamente o projeto Bush de instalação de um escudo balístico na fronteira ocidental da Rússia, e aprofundam as relações entre as duas maiores potências atômicas mundiais, desautorizando a mobilização anti-russa dos países da Europa Central, promovida e liderada atualmente, pela Polônia e pela Suécia.



Neste mesmo período, no Oriente Médio, o presidente Obama aumentou sua pressão contrária à instalação de novas colônias israelenses em território palestino, e diminuiu a intensidade retórica de sua disputa atômica com o Irã, sinalizando de forma discreta, a disposição para um novo tipo de acomodação regional. Como ficou visível, com o acordo político que permitiu a formação do novo governo iraquiano do premier Nuri al Maliki, com a intervenção do irão e com o apoio dos EUA, apesar de que Maliki não fosse o candidato preferido dos norte-americanos. E provavelmente, a crise atual do governo libanês só terá uma solução pacífica e duradoura, se envolver, de novo, um ajuste de posições e interesses entre os EUA e o Irã, mesmo que ele seja informal e não declarado.



Estas vitórias e decisões do governo Obama, estão apontando para uma nova política internacional dos EUA, de aproximação com a Rússia, e de acomodação negociada das crises sobrepostas, do Oriente Médio e da Ásia Central. No caso da aproximação da Rússia, os EUA contam com o apoio da Alemanha, por cima das resistências e das divergências intermináveis da UE, e se ela tiver sucesso, deverá redesenhar o mapa geopolítico da Europa moderna. Dentro da nova aliança, a Rússia colaboraria com a estabilização da Ásia Central, e ocuparia um lugar de destaque na em uma negociação silenciosa – que já está em curso – envolvendo o Irã e a Turquia, por cima das alianças tradicionais dos EUA, dentro da região, com vistas a construção de um novo equilíbrio de poder, no Oriente Médio, Em compensação, a Rússia teria o apoio norte-americano para retomar sua “zona de influencia”, e reconstruir sua hegemonia nos territórios perdidos, depois da Guerra Fria, sem as armas, e pelo caminho do mercado e das pressões diplomáticas, como já vem ocorrendo neste momento.



Esta nova estratégia é ousada e de alto risco, mas não é original. No auge do seu poder, logo depois da II Guerra Mundial, os EUA perderam o controle da Europa Central para a URSS, em seguida perderam o controle da China, para a revolução comunista de Mao Tse Tung, e foram obrigados à um armistício inglório, na Guerra da Coréia. Como conseqüência, os EUA tiveram que mudar sua estratégia do imediato pós-guerra, e transformaram a Alemanha e o Japão, nas peças econômicas centrais da aliança em que se sustentou a sua posição durante a Guerra Fria. Duas décadas depois, em plena época de ouro do “capitalismo keynesiano”, os EUA voltaram a ser derrotados no Vietnã, Laos e Cambodja, e perderam o controle militar do sudeste asiático. E de novo mudaram sua política internacional, construindo uma aliança estratégica com a China, que dividiu o mundo socialista, fragilizou a URSS, e redesenhou a geopolítica e o capitalismo do final do século XX. Deste ponto vista, o grande jogo proposto pelo governo Obama, para o mundo pós-Iraque e pós-Afeganistão, aponta na mesma direção da década de 1970, só que com o sinal trocado. Agora se trata de uma proposta de aliança estratégica com a Rússia, que bloquearia a expansão chinesa na Ásia, mas que também envolverá algum tipo de apoio ou “convite” ao desenvolvimento do capitalismo russo, bloqueado pelo seu excessivo viés “primário-exportadora”.



Roosevelt concebeu uma aliança parecida com a URSS, em 1945, mas sua proposta foi atropelada pela sua morte, e pela estratégia desenhada por Churchill e Truman, que levou à Guerra Fria. Agora de novo, o projeto de Barack Obama pode revolucionar a geopolítica mundial, mas também pode ser atropelado – entre outras coisas – pelas mudanças presidenciais que ocorrerão nos EUA e na Rússia, no ano de 2012.



Data de Publicação: 26.1.2011

(Brasil -Justiça) - Uma carta de Cesare Battisti:

A história não se julga nos tribunais, ela á sempre matéria de historiadores. Desde o ano 2000 se assiste à impiedosa tentativa do Estado italiano enterrar definitivamente a tragédia dos anos de chumbo, jogando na prisão e levando à morte o bode expiatório Cesare Battisti.

Cesare Battisti

Caros companheiros(as), há meia hora, nesta terça, antes da visita dos companheiros decidi escrever um recado para todos vocês que participam dessa luta em meu favor. Resultado: pouco tempo para escrever algo vigoroso; cabeça cheia de insultos grifados de uma cela a outra; e o espírito fica longe: palavras que não se deixam prender e, enfim, o recado é para já.



Tem-se dito e escrito tanto sobre esse “Caso Battisti” que já não sei mais distinguir direitinho o eu do outro. Aquele Battisti surgido do nada e jogado pela mídia como pasto para gado. Mas essas são só palavras, vazias como as cabeças desses mercenários que costumam facilmente trocar a pistola com a caneta e até uma cadeira no Congresso. No entanto, os companheiros/as de luta, assim, todos/as aqueles que ainda sabem ler atrás da “notícia”, vocês sabem quem é quem, qual a minha história e também a manipulação descarada que está servindo a interesses políticos e pessoais, de carreira e de mercado: em 2004, depois de 14 anos de asilo, a França de Sarkozi me vendeu à Itália de Berlusconi em troca do trem-bala [comboio de grande velocidade] de Lyon-Turin. Desde o ano 2000 estamos assistindo à impiedosa tentativa do Estado italiano enterrar definitivamente a tragédia dos anos de chumbo, jogando na prisão e levando à morte o bode expiatório Cesare Battisti.



Entre centenas de refugiados dos anos 70 que se encontram em vários países do mundo, não fui escolhido eu por acaso nem pela importância do papel de militante, mas pela imagem pública que eu tinha enquanto escritor, o que me dava o acesso à grande mídia para denunciar os crimes de Estado naquela época e os atuais…



Eis que de repente há tantas coisas por dizer que eu não sei mais me orientar! Pela rua, claro, só a rua vai me dirigir até vocês. Na rua comecei mil anos atrás e nela continuo; nela mesmo onde será praticamente impossível evitar-nos. E então falo, falo de homens e de mulheres, de companheiros(as), de sonhos e de Estados (esses também ficam no caminho, de ladinho). Falo sobre minha vida que não conheceu hinos, nem infância, mas que em troco tive o mundo todo para brincar com outra música que não essas fanfarras de botas.



Contudo, parece quase que estou falando como homem livre, não é? Porém, estou preso. Vai fazer quatro anos no próximo março. Ainda assim, essas cariátides da reação não conseguiram me pegar em tempo. Quase três anos se passaram (antes de eu ser preso), de rua a outra, nesse tempo conheci o país, cheirei o povo, me misturei a ele, ao ponto de quase esquecer o hálito fedorento dos cães de caça. Ainda estou preso, está certo, mas isso não me impede de sentir lá fora vossos corações batendo pela liberdade.



Talvez eu tinha que falar-lhes algo mais sobre esta perseguição sem fim, dar-lhes algumas dicas de como driblar a matilha. Mas acabei por pintar-lhes um abraço sincero e libertário. É o que conta.



Data de Publicação: 18 de janeiro de 2011

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

(Congo - Política) - El asesinato de una nación

Hace 50 años la CIA organizó el asesinato del lider congoles Patrice Lumumba, un hecho sorfido de la Guerra Fria


Josep Fonhtana*
Fuente: SinPermiso

Hoy se cumplen 50 años de uno de los peores crímenes de la Guerra Fría: el asesinato de Patrice Lumumba, que no significó tan sólo la muerte del jefe de un Gobierno democráticamente elegido, sino también el fin de la posibilidad de que el Congo se desarrollase como una nación independiente. La iniciativa del asesinato del único de los dirigentes congoleños que pudo haber llevado a la práctica un proyecto de construcción nacional surgió de Eisenhower y de Foster Dulles, que compartían el temor que les producía la imprevisible evolución de “la gran masa de la humanidad, que no es blanca ni europea”.

Lumumba viajó a Washington y se entrevistó con el secretario de Estado, Christian Herter, para pedir ayuda, en especial los medios de transporte que necesitaba para asegurar el control del país.

Eisenhower, que se mantuvo lejos de la capital durante su visita, se limitó a preguntar al National Security Council “si podemos librarnos de este tipo”, con lo cual puso en marcha el proceso que llevó a su asesinato. Ello sucedía tres días antes de que Lumumba, forzado por la negativa de Estados Unidos, pidiese medios de transporte a los soviéticos, que le proporcionaron 100 camiones y 15 aviones de transporte, lo que Eisenhower calificó como una “invasión soviética”.

El 26 de agosto de 1960 el director de la CIA, Allen Dulles, enviaba un telegrama al jefe de la delegación de la “compañía” en el Congo, Lawrence Devlin, para decirle que la caída de Lumumba era un objetivo prioritario e inmediato. Pocos días más tarde el presidente Kasa-Vubu, tras haber consultado el plan con el embajador norteamericano y con el representante de las Naciones Unidas, destituyó a Lumumba, pese a que su partido tenía la mayoría en el Parlamento. Mientras los diplomáticos africanos trataban de mediar en la crisis, el jefe del ejército, Mobutu, dio un golpe de fuerza, con el apoyo de Devlin, y confinó a Lumumba. Pero su encarcelamiento no les bastaba ni a la CIA ni al Gobierno belga, cuyo ministro para África envió el 6 de octubre un telegrama pidiendo su “eliminación definitiva”.

Para liquidar el asunto se le envió con dos de sus colaboradores a Katanga, donde fueron torturados hasta convertirlos en despojos humanos. El 17 de enero de 1961 los sacaron de noche al bosque, los ataron a los árboles y los fusilaron, tras lo cual se cuidó de destruir los cadáveres para que no quedase ni rastro de ellos.

El país fue entregado poco después al Gobierno de Joseph-Desiré Mobutu, que lo presidió de 1965 a 1997, durante 32 años de un régimen cleptocrático que sobrepasó todos los ejemplos de corrupción conocidos en la historia, protegido militarmente por Estados Unidos y por Francia y con el apoyo económico del Banco Mundial y del Fondo Monetario Internacional. Que en 1989, cuando no podía caber duda alguna del desastre a que había llevado a su país, fuese todavía recibido en la Casa Blanca como un campeón de la libertad es una muestra de la desvergüenza que inspiró la política de la Guerra Fría.

Cuando se vio forzado a exiliarse, Mobutu dejó tras de sí un país desarticulado, que se vio casi de inmediato envuelto en lo que Gérard Prunier ha calificado como “la guerra mundial de África”, un conflicto que ha causado hasta hoy más de cinco millones de muertos, la mayoría de ellos entre la población civil: una guerra que se mantiene latente y de la que no se suele hablar demasiado para no estorbar las actividades que se benefician de ella, en especial las que se refieren a la extracción de las riquezas naturales del país, como el coltan, indispensable para la fabricación de teléfonos móviles y consolas de videojuegos.

El Congo, dice un informe de Global Witness publicado en diciembre de 2009, “ha sido considerado desde fuera como un depósito de una gran riqueza de recursos naturales, con el pueblo congoleño como la fuerza de trabajo destinada a extraerla”. Está claro que la inexistencia de un Estado organizado es una condición que favorece este expolio, lo cual ayuda a explicar que siga siendo en la actualidad un país desestructurado, sin una administración centralizada (las compañías mineras pagan sobornos a los funcionarios, en lugar de abonar impuestos a la Hacienda pública), sometido a los desmanes de un ejército que el Gobierno no paga, y que está por ello condenado a vivir del saqueo.

En marzo de 2009, Jeffrey Herbst

y Greg Mills publicaron en Foreign Policy un artículo en el que sostenían que “la comunidad internacional debe reconocer un hecho tan simple como brutal: la República Democrática del Congo no existe”. Una afirmación que sirve, por una parte, para ratificar cuáles han sido los resultados de un proceso que se inició hace 50 años con el asesinato de Lumumba, pero que tiene, por otra, la virtud de descubrirnos que los objetivos que condujeron a aquel crimen siguen vigentes, porque está claro que la balcanización del Congo facilita la continuidad del saqueo de sus recursos naturales, extraídos frecuentemente con trabajo esclavo.

Quienes siguen creyendo que la Guerra Fría fue un enfrentamiento entre las fuerzas del totalitarismo y las de la democracia tienen en el asesinato del Congo un motivo para reflexionar. Y para desconfiar, de paso, de los móviles que justifican hoy otros planteamientos políticos y otros conflictos de naturaleza semejante.

(*) miembro del Consejo Editorial de SinPermiso

Fecha de Publicación: 17 de enero de 2011

(Tunisia - Política) - Túnez: y de pronto, la revolución

El pueblo de Tunisia es un exemplio de gran vala de como es importante la mobilización de la gente, mismo en un ambiente de feroz represión.  Se calió un dictador y la lucha continua para evitar que sigan los mismos de siempre el en poder

Santiago Alba * 

Fuente: SinPermiso


En 1999, cuando se contaba este chiste en los medios intelectuales, Túnez estaba amordazado, pero a cambio disfrutaba -se repetía- de una situación económica incomparablemente mejor que el resto del mundo árabe. Con un crecimiento medio del 5% durante la década pasada, el FMI ponía al país como ejemplo de las ventajas de una economía liberada de las trabas proteccionistas y en el año 2007 el Foro Económico Mundial para Africa lo declaraba “el más competitivo” del continente, por encima de Sudáfrica. “Kulu shai behi”, todo va bien, repetía la propaganda del régimen en vallas publicitarias, editoriales de prensa y debates coreográficos en la televisión. Mientras el gobierno vendía hasta 204 empresas del robusto sector público creado por Habib Bourguiba, el dictador ilustrado y socialista, se multiplicaba el número de 4x4 en las calles, se construían en la capital barrios enteros para los negocios y le loisir y hasta 7 millones de turistas acudían todos los años a disfrutar de la cada vez más sofisticada y sólida infraestructura hotelera del país. En el 2001, cuando se abrió el primer Carrefour, símbolo y anuncio del ingreso en la civilización, algunos podían hacerse la ilusión de que Túnez era ya una provincia de Francia. Era un país maravilloso: la luz más limpia y hermosa del mundo, las mejores playas, el desierto más hollywoodesco, la gente más simpática. No se podía hablar ni escribir, es verdad, pero a cambio la gente engordaba y el islamismo reculaba. La UE y Estados Unidos, pero también las agencias de viajes y los medios de comunicación contribuían a alimentar la imagen de un país más europeo que árabe, más occidental que musulmán, más rico que pobre, en transición hacia la felicidad del mercado capitalista. No se podía ni hablar ni escribir, es verdad, y también es verdad que ocupaba el segundo lugar en el ranking mundial de la censura informática, pero el esfuerzo del gobierno merecía una recompensa: Túnez organizó una Copa de Africa, un Mundial de Balonmano y en 2005 una insólita Cumbre de la Información durante la cual se ocultó al mundo una huelga de hambre de jueces y abogados y se detuvo a periodistas y blogueros.



A poco que alguien se hubiese molestado en rascar bajo esa superficie bien barnizada habría descubierto una realidad bien distinta. Nadie o casi nadie lo hizo. De enero a junio de ese año 2005, por ejemplo, El País publicó 618 noticias relacionadas con Cuba, donde no pasaba nada, y 199 sobre Túnez, todas sobre el turismo o el mundial de balonmano; El Mundo, en esas mismas fechas, registró 5162 entradas sobre Cuba, país donde no pasaba nada, y sólo 658 sobre Túnez, casi todas sobre el mundial de balonmano; y ABC tendió 400 veces la mirada hacia Cuba, país donde no pasaba nada, mientras sólo mencionaba a Túnez 99 veces, 55 de ellas en relación con el mundial de balonmano. El 10 de marzo de ese mismo año una rápida búsqueda en Google entregaba 750 enlaces sobre el reparto del gobierno cubano de las famosas ollas arroceras y sólo tres (dos de Amnistía Internacional) sobre la huelga de hambre y la tortura a presos en Túnez.



Pero lo cierto es que Carrefour y los humvee -y la vida nocturna en Gammarth- ocultaba no sólo la normal represión ejercida por Ben Ali desde 1987, año del golpe palaciego o del Gran Cambio, sino también la desaparición de una clase media que había comenzado a formarse en los años 60 y había sobrevivido a la crisis de finales de los 80. Unos pocos entraban en el Carrefour y otros muchos salían del país: hasta un millón de jóvenes tunecinos -sobre una población de 10 millones- viven fuera, sobre todo en Francia, Italia y Alemania. Mientras una minoría dejaba el francés por el inglés y despreciaba, por supuesto, el dialecto tunecino, la estructura educativa heredada del régimen anterior, relativamente solvente, se degradaba de tal modo que el último informe PISA relegaba a Túnez a uno de los últimos diez lugares de la lista de la OCDE. Mientras veinte familias disfrutaban del ocio en los Alpes o en París, el paro aumentaba hasta alcanzar el 18%, el 36% entre los más jóvenes: entre los diplomados y licenciados pasaba de un 0,7% en 1984 a un 4% en 1997 para dispararse a un 20% en 2010. En el espejo del Carrefour -en medio de la publicidad atmosférica que invitaba a un consumo inaccesible-, los jóvenes de la banlieue de la capital y de las regiones del centro y sur del país parecían conformarse con poder disfrutar de ese reflejo.



¿Quién se beneficiaba de este crecimiento bendecido por el FMI y por las instituciones europeas? Básicamente una sola familia, extensa y tentacular, a la que los despachos de la embajada estadounidenses filtrados por wikileaks describen como un “clan mafioso”. Se trata de la familia de Leyla Trabelsi, la segunda esposa del dictador, hasta tal punto dueña del país que muchos se referían a Túnez (la Tunisie) como La Trabelsie. Ben Alí y su familia política se habían apoderado, mediante privatizaciones opacas, de toda la actividad económica de la nación, convirtiendo el Estado en el instrumento de un capitalismo mafioso y primitivo o, mejor, de un feudalismo parasitario del capitalismo internacional. La lista de sectores saqueados por el clan resulta apenas creíble: la banca, la industria, la distribución de automóviles, los medios de comunicación, la telefonía móvil, los transportes, las compañías aéreas, la construcción, las cadenas de supermercados, la enseñanza privada, la pesca, las bebidas alcohólicas y hasta el mercado de ropa usada. No puede extrañar que, durante las revueltas de estos días, se hayan asaltado tantos comercios, empresas y bancos; se ha hablado de “vandalismo”, pero se trataba también de un vandalismo certero o, en cualquier caso, de un vandalismo que, incluso cuando se desencadenaba al azar, inevitablemente acertaba: golpease donde golpease, golpeaba sin duda una propiedad de los Trabelsi.



En este cuadro de represión y apropiación, había que tender el oído para escuchar el ruido de la marea ascendente. Pocos lo hicieron, ni siquiera cuando en enero de 2008, en Redeyef, cerca de Gafsa, en las minas de fosfatos, otro incidente menor -una protesta por un acto de nepotismo- puso en pie de guerra a toda la población. Durante meses se prolongaron las huelgas, hubo cuatro muertos, doscientos detenidos, juicios sumarísimos con penas escalofriantes. Mientras Redeyef permaneció sitiado por la policía, sólo periodistas y sindicalistas tunecinos trataron de romper el bloqueo policial e informativo. En Europa, la Trabelsia seguía siendo bella, tranquila, segura para los negocios y la geopolítica. Tan solo un periodista italiano, Gabriele del Grande, se atrevió a entrar clandestinamente en el corazón de las protestas y sacar información antes de ser detenido por la policía y expulsado del país. Su reportaje comienza así: “Sindicalistas detenidos y torturados. Manifestantes asesinados por la policía. Periodistas encarcelados y una potente máquina de censura para evitar que la protesta se extienda. No es una clase de historia sobre el fascismo, sino la crónica de los últimos diez meses en Túnez. Una crónica que no deja lugar a dudas sobre la naturaleza del régimen de Zayn al Abidin Ben Ali -en el gobierno desde 1987-. Una crónica que revela el lado oscuro de un país que recibe millones de turistas todos los años y del que escapan miles de emigrantes también todos los años”. En un libro posterior, Il mare di mezzo, del Grande describe en detalle la maquinaria del terror tunecino, con las cárceles secretas en las que desaparecían no sólo los opositores nacionales sino también los emigrantes argelinos, secuestrados en el mar por las patrulleras locales -policías de Europa- para ser arrojados luego en el abismo. Nadie dijo nada. Era mucho más importante sostener al dictador; Ben Ali y las potencias occidentales compartían no sólo intereses económicos y políticos sino también el mismo desprecio radical por el pueblo tunecino y sus padecimientos.



Pero el 17 de diciembre una chispa iluminó de pronto el monstruo y revelo asimismo, como explica el sociólogo Sadri Khiari, que “no hay servidumbre voluntaria sino sólo la espera paciente del momento de la eclosión”. El gesto de desesperación de Mohamed Bouazizi, joven informático reducido a vendedor ambulante, puso en marcha un pueblo del que nadie esperaba nada, que los otros árabes despreciaban y que Europa consideraba dócil, cobarde y adormecido por el fútbol y el Carrefour. Un ciclo lunar después, el 14 de enero pasado, tras cien muertos y decenas de metástasis rebeldes en todo el territorio, la ola rompió en el centro de Túnez y alcanzó su objetivo. Ya no se trataba ni de pan ni de trabajo ni de youtube: “Ben Ali asesino”, “Ben Alí fuera”. La última carga policial, desmintiendo las promesas que había hecho el día anterior el dictador, provocaron aún numerosos muertos y heridos. Pero era muy hermoso, muy hermoso ver a esos jóvenes de los que un mes antes nadie esperaba nada volverse en la calle y retener a la gente que huía para animarla a regresar a la batalla con las estrofas vibrantes del himno nacional: “namutu namutu wa yahi el-watan” (moriremos moriremos para que viva la patria). A última hora de la tarde, apoyado hasta el final por Francia, el dictador huía a Arabia Saudí, dejando a sus espaldas milicias armadas con instrucciones para sembrar el caos.



El peligro no ha pasado, la lucha continúa. Pero ahora hay un pueblo que libra las batallas. “El 14 de enero es nuestro 14 de julio”, repiten los tunecinos. Quizás el de todo el mundo árabe. Jamás el pueblo había derrocado un dictador; y este pueblo inesperado, intruso en la lógica de las revoluciones, este Túnez de jazmines y luz de miel, ahora de dignidad y combate, es el espejo en el que se miran los vecinos, de Marruecos al Yemen, de Argelia a Egipto, hermanos de frustración, infelicidad e ira. No hay que encontrar las causas, siempre dadas, sino el minuto. Y ese minuto es ahora.



(*) ensayista y filósofo madrileño

Fecha de publicación: 23.1.2011

(Argentina - Malvinas) - Ex-combatentes das Malvinas exigem direitos e reconhecimento

Mil dias na praça na Praça de Maio em defesa dos direitos que estão sendo negado desde 1982


Elaine Tavares(*)

Fonte: IELA - Instituto de Estudos Latino-Americanos da Universidade Federal de Santa Catarina


Luis Gianinni tinha pouco mais de 18 anos quando, servindo ao exército em 1982, foi chamado a defender sua pátria numa guerra praticamente suicida: a guerra das Malvinas. “Nós éramos jovens recrutas, não tínhamos conhecimento de tudo o que estava em jogo. Apenas sabíamos que tínhamos de defender a Argentina. E assim foi”. Luiz, junto com mais 400 companheiros é um dos ex- combatentes que estão acampados na Praça de Maio, em frente ao palácio do governo argentino, exigindo direitos e reconhecimento. Luis, assim como os demais colegas em luta não estiveram na ilha, mas foram mobilizados e chegaram a travar combates no continente. Ainda assim, eles foram deixados de fora da lei que estabeleceu direitos para os ex-combatentes, sob a alegação de que os que atuaram no continente não teriam participado da guerra mesma.



Segundo os ex-soldados isso não é verdade. Eles insistem que quando, dias depois de a Argentina ter iniciado a guerra, foi criado, via decreto, o Teatro de Operações do Atlântico Sul (TOAS) este incluía, além das ilhas, as províncias de Chubut e Santa Cruz, na parte continental. Num dos anexos do decreto também está dito que o Comitê Militar poderia estender sua jurisdição a outros espaços marítimos e aéreos que fossem necessários, visando garantir a defesa de todo o litoral do país num eventual ataque dos ingleses ao território argentino, principalmente na região das bases de Rio Gallegos e Comodoro Rivadavia, de onde saiam os bombardeiros da Força Aérea. Assim que esta zona ficou com as tropas em estado de alerta durante todo o conflito.



Foi por conta deste alerta que os soldados que estavam servindo naquela região se envolveram na guerra. Segundo Luis, eles preparavam obras de defesa, cavavam poços, trincheiras, faziam exercícios militares de defesa, faziam patrulhas e mantinham o armamento em dia, esperando o combate. Toda a correspondência era censurada e eles tinham de estar sempre prontos para entrarem em ação. Assim, dizem os ex-soldados que hoje acampam em frente à casa Rosada: “O medo, o frio, a incerteza, a espera do confronto armado e toda a carga psicológica da guerra foi vivida por cada um dos que ali estavam. Mesmo aqueles que ficaram em Puerto Argentino e que nunca dispararam um tiro sequer. A guerra estava viva em nós. Nós a vivemos”.



Mas, a lei número 22.674, que garantiu direitos às pessoas que sofreram danos ou perderam seus empregos por conta de sua participação na guerra acabou envolvendo apenas aos oficiais e aos que estiveram nos combates na ilha ou nas zonas de saída das tropas. Os demais foram deixados de fora, como se não tivessem vivido toda a atmosfera da guerra. “Naqueles dias todos nós, que éramos muito jovens, vivíamos a angústia de a qualquer momento ter de enfrentar uma outra pessoa, armada, matar e morrer. Isso deixa marcas, isso pode destruir a cabeça de muita gente”.



Entre os argumentos que os acampados apresentam para serem incorporados aos benefícios devidos aos ex-combatentes está o teor do artigo 14º da Lei 13.234 que mostra que durante o conflito o país estava dividido em uma ou mais Zonas de Operação, assim como de uma Zona no Interior. Assim que quem estava no continente, em estado de alerta, também estava no teatro de guerra. “O regulamento do exército define como Teatro de Operações o território, tanto próprio como do inimigo, que seja necessário para o desenvolvimento das operações militares em nível estratégico e operacional. Nesse sentido, nós estávamos bem dentro da zona”. Conforme contam até os livros de história da Argentina: “Eram dias febris tanto nas Malvinas como em Comodoro Rivadavia, cidade que ficava na cabeceira do operativo militar. Unidades de transporte da Força Aérea chegavam constantemente às cidades, repletas de batalhões de infantaria. No continente, as autoridades militares ordenavam operações de defesa, diante de um eventual ataque britânico” (História da Guerra das Malvinas, A. Alonso Piñeiro, p.37).



Luis Gianinni lembra também de uma citação da Corte Suprema de Justiça da Argentina que afirma: “por guerreiro deve-se em geral entender-se o pertencente ou relativo à guerra, e, por conseguinte o ofício ou profissão daquela por homens que como oficiais ou soldados contribuem para a formação de um exército sem que importe se participe ou não de ações de guerra”. Ora, se é assim, porque então todos estes ex-combatentes estão excluídos dos benefícios? Dentro da tenda, armada na Praça de Maio, os ex-soldados insistem em dizer que a resposta deve ser buscada no “da costeleta”, como indicam o ex-presidente Menen, de quem se recusam a dizer o nome. “Agora, esperamos que Cristina seja sensível e ajude a influenciar o legislativo, atendendo nossas reivindicações e repare esse erro”.



Para os homens que há mais de mil dias perseveram, acampados na Praça de Maio, na luta pelo reconhecimento do serviço que prestaram durante a guerra que vitimou mais de 600 soldados argentinos, 17 dos quais eram seus companheiros do continente, o mais importante de tudo é que o governo e o povo argentino reconheçam que eles fizeram parte deste triste momento da pátria. “Já são 27 anos de espera, por pelo menos um aceno de consideração. Nós estivemos envolvidos e sofremos a pressão da guerra. É justo que nos reconheçam. Por um decreto, sem que fôssemos consultados, nos mandaram à guerra, e agora nos deixam aqui, abandonados. Isso sem esquecer aqueles que tombaram e deram sua vida pela Argentina”.



A guerra das Malvinas, que durou de 02 de abril a 14 de junho de 1982, foi levada pelo governo militar da Argentina, quando decidiu recuperar a ilha, roubada pela Inglaterra em 1833 durante suas incursões de rapinagem pela América do Sul. A posse daquele território na América Austral tem importância estratégica por conta do tráfego marítimo e a Argentina sempre havia reivindicado a sua retomada. A decisão de ir à guerra em 1982 esteve ancorada no desgaste do governo de ditadura militar, um dos mais violentos da América Latina, que, vivendo uma crise sem precedentes no campo econômico, precisava encontrar uma forma de distrair o povo argentino das agruras causadas pela incompetência governamental. Assim, os militares decidiram declarar a guerra de retomada das Malvinas, visando unir os argentinos sob uma única bandeira de patriotismo.



A ação de o governo militar argentino mostrou-se completamente desastrosa e as forças locais foram imediatamente aplastadas pelo poderio britânico, que chegou a enviar até submarinos nucleares para os mares do sul. Como era de se esperar, as grandes potências, como os Estados Unidos e outros países europeus, declararam apoio à Grã Bretanha e a derrota argentina foi inevitável. Em batalha após batalha, foram caindo os soldados argentinos, dando uma trágica concretude à mortal aventura da ditadura argentina, que acabou se rendendo em 14 de junho. Três dias depois o general Leopoldo Galtieri, então presidente do país, renunciou e, com esse episódio tem início a derrocada da ditadura, pois o povo dramaticamente percebia, mergulhado numa crise econômica, política e moral, que os militares não podiam mais dar respostas à vida nacional. Um ano e meio depois, acontecem as primeiras eleições livres desde 1976, com a eleição de Raul Alfonsin.



Hoje, ouvindo os ex-combatentes das Malvinas, que seguem ignorados pelas autoridades locais, percebe-se que a Argentina ainda tem muito de avançar no que diz respeito a esse episódio dramático que sepultou mais de mil vidas, entre argentinos e ingleses, nas terras geladas do sul. Os jovens que, naqueles dias, enfrentaram um dos países mais poderosos do mundo em nome de uma quimera, merecem respeito. Eles estiveram na luta, enfrentaram os que lhes eram indicados como inimigos e agora precisam que a Argentina os olhe nos olhos e lhes diga, pelo menos: “gracias”. Já não se trata mais de discutir se foi uma guerra estúpida, e foi, mas de recuperar a confiança daqueles que, de peito aberto, se colocaram na linha de frente para defender seu país. Se os demais combatentes tiveram direitos, eles também os merecem.

(*) jornalista

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

(Mundo - Movimentos Sociais) - Entrevista con Chico Whitaker, co-fundador del FSM.

Hay que promover el Foro Social Mundial como un bien común de la humanidad.




Sergio Ferrari. (*)



Junto con otros militantes políticos y sociales de Brasil, Francisco “Chico” Whitaker es uno de los co-fundadores del Foro Social Mundial (FSM) que vio la luz del día en Porto Alegre, en enero del 2001. Desde entonces se ha convertido en uno de los “ideólogos” de este nuevo proceso en marcha. Infatigable actor y pensador, a sus casi 80 años, Whitaker apuesta a ciertas “verdades esenciales” que definen esta nueva forma de hacer política y de construir ciudadanía planetaria. Y se lanza a sistematizar algunos elementos de análisis que sintetizan el proceso de los Foros. Galardonado con el Premio Nobel alternativo en el 2006, Chico Whitaker publicó en el 2008, “El desafío del FSM- Un modo de ver”, obra de referencia para el pensamiento altermundialista.



Cinco novedades del FSM.



P: ¿Cómo sintetizaría los aportes conceptuales del Foro Social Mundial desde su nacimiento?



R: Tal vez, a nivel didáctico y para simplificar una riquísima experiencia en construcción, me atrevería a hablar de cinco novedades principales del proceso del FSM.



La primera, la creación de estas plazas o espacios a nivel internacional. Antes no existían y cada organización, campaña o movimiento hacían sus propios encuentros, incluso a nivel mundial. Pero no contábamos con espacios comunes a todos, en torno a un objetivo principal que compartimos.



La segunda novedad, es la organización de ese espacio de tal forma que facilita el reconocimiento y aprendizaje mutuo, el intercambio de experiencias, la identificación de convergencias y la posibilidad de nuevas alianzas.



La tercera, el hecho de comenzar a considerarse como positivo, en la lucha política, la diversidad de acciones y la autonomía de los diferentes actores. El respeto a la diversidad sobresale como uno de los principios básicos de la Carta de Principios del FSM.



Si hablo de una cuarta novedad, quiero referirme a la construcción de una nueva cultura política, basada en la horizontalidad de las relaciones, en la corresponsabilidad, en la preocupación de no imponer sino dialogar, en la búsqueda del consenso que nos hace a todos más felices y más fuertes. Una cultura política que se corresponde con el “Otro Mundo Posible”.



Y la quinta, que se encuentra todavía en gestación pero que avanza poco a poco: la afirmación del altermundialismo como un movimiento multiforme, multifacético y diverso que amplía la acción política más allá de los partidos y del poder político. Afirmación que se basa en la comprensión que los partidos no pueden pretender mantener el monopolio de la acción política y que la acción que transformará eficazmente el mundo deberá implicar a todos los segmentos sociales y cada uno de los miembros de la sociedad.



Universalizar el Foro Social Mundial.



P: ¿En esta perspectiva cuál es la prioridad de este proceso pensando por ejemplo en el FSM de Dakar de febrero próximo?



R: Hay numerosas prioridades para un proceso en marcha. Pero tal vez, una clave, sea la de continuar en esta construcción en la medida en que estamos lejos todavía de desarrollar este pensamiento en el mundo entero y enraizarlo, profundizarlo en todas partes. Si en otros momentos históricos pudimos soñar con construir uno, dos, cien Vietnam, hoy, tal vez, debemos apostar a construir, promover o facilitar uno, dos cien, millones de “espacios de encuentro”, de Foros, en todas sus variantes regionales, temáticas etc.



P: ¿Universalizar el proceso del foro?



R: En efecto. Y tal vez a esta reflexión de universalidad le sumo otro desafío que tendremos por delante. Promover la visión del Foro Social Mundial como un Bien Común de la Humanidad, dado que nació y existe para servir a todos los movimientos y las organizaciones sociales, que, como parte del movimiento altermundialista combaten a favor de la construcción de otro mundo.



P: ¿Se refiere al FSM como un espacio a disposición del movimiento altermundialista?



R: Defiendo la idea que el FSM es un espacio abierto a todos los que consideran que hay que superar el actual sistema económico dominante. Una de las críticas planteadas al FSM es que estos espacios pueden ser útiles, interesantes, incluso simpáticos y constructivos, pero insuficientes si queremos cambiar el mundo. Pienso que es fundamental ampliar la mirada. Y profundizar los conceptos de acción y reflexión. La diferencia de naturaleza entre espacio y movimiento está en relación con esa diferencia entre reflexión y acción. Estoy convencido que las dos son esenciales, absolutamente necesarias desde nuestra perspectiva del cambio de mundo por la que optamos: la reflexión sin visionar la acción sería un ejercicio intelectual descomprometido y la acción sin una previa reflexión, sería irresponsable.



En este marco, es claro que el FSM-espacio debe ser comprendido como un instrumento indispensable para el movimiento altermundialista, al servicio de su acción. Espacio para que los participantes puedan revisar y evaluar lo que se hace; para restituir e incluso redefinir los objetivos que buscará la acción en las coyunturas siempre nuevas; para repensar la eficacia de las maneras y medios de acción que son empleados y crear otros medios o valorizar nuevas experiencias. Un movimiento que no abre espacio para esta reflexión, evidentemente se condena a sí mismo a su propio debilitamiento.



Metodología participativa.



P: ¿Espacio abierto con una metodología activamente participativa?



R: Es un punto esencial. En tanto el Foro Económico de Davos y otros tantos de este tipo en diversos lugares son verticalistas y piramidales, desde el comienzo el FSM promovió talleres y actividades auto-gestionadas, realizadas por cuanta organización quisiera participar en el espacio. En esa metodología tuvo un impacto la pedagogía de educación popular muy presente en la vida cotidiana de la mayor parte de los movimientos sociales brasileros y de las Comunidades Eclesiales de Base.



Según uno de los principios de esta pedagogía, educadores y educandos aprenden todos, los unos de los otros, a partir de los tipos de conocimientos propios que cada uno tenga y aporte. Esta visión estimula la creación de relaciones de horizontalidad entre los participantes de toda acción colectiva. En esta misma perspectiva de horizontalidad, otra característica de los FSM: el rechazo a terminar con declaraciones finales o mociones de conclusión, que podrían tener la pretensión de expresar la toma de posición del conjunto de los participantes.



Si hubiéramos adoptado el concepto de un documento final, transformaríamos al FSM en un espacio de disputa para que ese documento- declaración sea aprobada, como pasa en las asambleas o congresos de los partidos políticos. Lo que llevaría a manipulaciones si consideramos el gran número de participantes y la corta duración de cada Foro. Estos dos elementos: la auto-organización de actividades y el rechazo a cualquier documento final único, se convirtieron en verdaderos pilares metodológicos que dieron al FSM un gran poder de atracción.



P: ¿De dónde nacieron todas esas novedades, esas apuestas, esas opciones metodológicas que han permitido el desarrollo del proceso del Foro Social Mundial?



R: Diría, simplemente, que son el resultado de intuiciones, que se fueron acumulando en el camino, en la marcha. El objetivo inicial fue bastante claro: crear una alternativa y contrapunto al Foro Económico de Davos, en las mismas fechas en que éste se realiza. Que no fuera un espacio económico. Que se pasara a una fase propositiva de la lucha. Reforzando la acción de la sociedad civil- nuevo actor político que surgía- , tirando las barreras y fronteras que compartimentaban la acción de sus diferentes componentes.



Tuvimos la intuición / certeza que era necesaria una metodología específica de la que ya hablé. Y también vimos luego del primer Foro era necesaria una Carta de Principios que sintetizara los conceptos de ese primer evento. La misma contiene dos conceptos centrales. El primero: que el FSM no debe ser un lugar de lucha por el poder, lo que se hubiera convertido en raíz de división. Y, tan importante como lo anterior, el respeto a la diversidad. Todos los tipos de diversidad, desde los culturales o sociales hasta el ritmo propio de compromiso de cada uno en este proceso en marcha.+ (PE)



(*) Sergio Ferrari, periodista, investigador, argentino residente en Ginebra.Suiza.. Colaboración de prensa de E-CHANGER, ONG suiza de cooperación solidaria y el periódico Le Courrier

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

(Cuba - Relações internacionais) - É hora de fazer alguma coisa

Reflexões de Fidel Castro: É hora de fazer alguma coisa




21 de enero de 2011, 11:30Reflexões de Fidel Castro: É hora de fazer alguma coisa



Havana, 21 jan (Prensa Latina) "É hora de fazer alguma coisa" é o título da mais recente reflexão do líder da Revolução Cubana, Fidel Castro.



A Prensa Latina transmite o texto na íntegra.



Reflexões de Fidel Castro sobre a realidade cotemporânea, inclusive a questão do meio ambiente e ainda em relação à história cubana

Fonte: Agência Prensa Latina



VOU contar um pouco de história.



Quando os espanhóis "nos descobriram", há cinco séculos, o número estimado da população da Ilha não ultrapassava 200 mil habitantes, que viviam em equilíbrio com a natureza. Suas fontes principais de alimentos procediam dos rios, lagos e mares ricos em proteínas; além disso praticavam uma agricultura rudimentar que lhes fornecia calorias, vitaminas, sais minerais e fibras.



Em algumas regiões de Cuba ainda existia o hábito de produzir casabe, um tipo de pão elaborado com mandioca. Determinados frutos e pequenos animais silvestres complementavam sua dieta. Fabricavam alguma bebida com produtos fermentados e transmitiram a cultura mundial o hábito de fumar, muito daninho para a saúde.



A população atual de Cuba é, possivelmente, 60 vezes maior do que a existente naquela época. Embora os espanhóis se misturassem com a população autóctone, a exterminaram praticamente com o trabalho semi-escravo no campo e com a procura de ouro nas areias dos rios.



A população indígena foi substituída pela importação de africanos, capturados à força e escravizados, uma prática cruel que foi aplicada durante séculos.



De muita importância para nossa existência foram os hábitos alimentares criados. Fomos convertidos em consumidores de carne suína, bovina, ovina, leite, queijo e outros derivados; trigo aveia, cevada, arroz, grão-de-bico, feijão, ervilha e outras leguminosas procedentes de climas diferentes.



Originariamente, dispúnhamos do milho, e foi introduzida a cana-de-açúcar entre as plantas mais ricas em calorias.



O café foi trazido pelos conquistadores da África; o cacau possivelmente foi trazido do México. Estes dois produtos, juntamente com o açúcar, o fumo e outros produtos tropicais, viraram enormes fontes de recursos para a metrópole, depois do levante dos escravos no Haiti, ocorrido no início do século XIX.



O sistema de produção escravista perdurou até a transferência da soberania de Cuba para os Estados Unidos pelo colonialismo espanhol que, em uma guerra cruel e extraordinária, foi derrotado pelos cubanos.



Quando a Revolução triunfou, em 1959, nossa Ilha era uma verdadeira colônia ianque. Os Estados Unidos enganaram e desarmaram nosso Exército Libertador. Não se podia falar em uma agricultura desenvolvida, mas sim em imensas plantações, exploradas com o trabalho manual e animal que, em geral, não utilizavam fertilizantes nem maquinarias. As grandes usinas de açúcar eram de propriedade norte-americana. Várias delas tinham mais de cem hectares de terra; outras dezenas de milhares. No total eram mais de 150 usinas açucareiras, incluídas as dos cubanos, que trabalhavam menos de quatro meses a cada ano.



Os Estados Unidos receberam os fornecimentos açucareiros de Cuba nas duas grandes guerras mundiais, e tinham concedido a nosso país uma cota de venda nos seus mercados, associada a compromissos comerciais e a limitações da nossa produção agrícola, apesar de que o açúcar era, em parte, produzida por eles. Outros setores decisivos da economia, como os portos e refinarias de petróleo, eram propriedade norte-americana. Suas empresas possuíam grandes bancos, centros industriais, jazidas, cais, linhas marítimas e ferrovias, além de serviços públicos tão vitais como os elétricos e telefônicos.



Para aqueles que desejem entender não é necessário nada mais.



Apesar de que as necessidades de produção de arroz, milho, óleo, sementes e outros alimentos eram importantes, os Estados Unidos estabeleciam determinados limites a tudo o que concorresse com sua produção nacional, incluído o açúcar subsidiado de beterraba.



Logicamente, quanto à produção de alimentos é um fato real que dentro dos limites geográficos dum país pequeno, tropical, chuvoso e ciclônico, desprovido de maquinaria agrícola, de sistemas de barragens, de irrigação e do equipamento adequado, Cuba não podia dispor de recursos, nem estava em condições de concorrer com as produções mecanizadas de soja, girassol, milho, leguminosas e arroz dos Estados Unidos. Algumas delas, como o trigo e a cevada, não podiam ser produzidas em nosso país.



Certo é que a Revolução cubana não teve um minuto de paz. Apenas foi decretada a Reforma Agrária, antes de completar-se o quinto mês do triunfo revolucionário, começaram os planos e ações de sabotagem, incêndios, obstruções e emprego de meios químicos daninhos contra o país. Estes incluíram pragas contra produções vitais e, inclusive, contra a saúde humana.



Ao subestimar o nosso povo e sua decisão de lutar por seus direitos e sua independência, os EUA cometeram um erro.



É claro que nenhum de nós tinha, nesse então, a experiência atingida durante muitos anos; atuávamos a partir de ideias justas e de uma concepção revolucionária. Talvez o principal erro de idealismo cometido foi pensar que no mundo havia uma determinada quantidade de justiça e respeito ao direito dos povos quando, certamente, não existia. Contudo, disso não dependeria a decisão de lutar.



A primeira tarefa que ocupou nosso esforço foi a preparação para a luta que se aproximava.



A experiência adquirida na batalha heroica contra a tirania batistiana, é que o inimigo, qualquer que fosse sua força, não podia vencer o povo cubano.



A preparação do país para a luta virou esforço principal do povo, e nos levou a episódios tão decisivos como a batalha contra a invasão mercenária, promovida pelos Estados Unidos, em abril de 1961, desembarcada na Baía dos Porcos e escoltada pela infantaria da marinha e pela aviação ianques.



Incapaz de se resignar à independência e ao exercício dos direitos soberanos de Cuba, o governo desse país adotou a decisão de invadir nosso território. A URSS não teve absolutamente nada a ver com o triunfo da Revolução Cubana. Esta não assumiu o caráter socialista devido ao apoio da URSS, tudo o contrário: o apoio da URSS foi oferecido pelo caráter socialista da Revolução Cubana. De tal maneira que, apesar da URSS ter desaparecido, Cuba continua a ser socialista.



Por alguma via a URSS soube que Kennedy tentaria utilizar com Cuba o mesmo método que ela aplicou na Hungria. Isso levou aos erros que Kruschov cometeu, a respeito da crise dos mísseis, que fui obrigado a criticar. Mas não só foi Kruschov que errou, também Kennedy. Cuba não tinha nada a ver com a história da Hungria, nem a URSS teve nada a ver com a Revolução, que foi fruto, apenas, da luta do nosso povo. Kruschov somente teve o gesto solidário de enviar armas a Cuba, quando foi ameaçada pela invasão mercenária que os Estados Unidos organizaram, treinaram, armaram e transportaram. Sem as armas enviadas a Cuba, nosso povo teria derrotado as forças mercenárias da mesma forma com a qual derrotou o exército de Batista, ocupando-lhe todo o equipamento militar que possuía: 100 mil armas. Se a invasão direta dos Estados Unidos contra Cuba tivesse ocorrido, nosso povo estaria lutando até hoje contra seus soldados, que com certeza, também teriam que lutar contra milhões de latino-americanos. Os Estados Unidos teriam cometido o maior erro de sua história, e a URSS talvez ainda existiria.



Horas antes da invasão, depois do ataque covarde a nossas bases aéreas, por aviões dos Estados Unidos que levavam bandeiras cubanas, foi declarado o caráter socialista da Revolução. O povo cubano combateu pelo socialismo, naquela batalha que ficou registrada na história como a primeira vitória contra o imperialismo na América.



Passaram dez presidentes dos Estados Unidos, está passando o décimo-primeiro, e a Revolução Socialista se mantém em pé. Também passaram todos os governos que foram cúmplices dos crimes dos Estados Unidos contra Cuba, e nossa Revolução se mantém em pé. A URSS desapareceu e a Revolução continuou adiante. Não se levou a cabo com permissão dos Estados Unidos, mas sim sob um bloqueio cruel e desapiedado; com ações terroristas que mataram ou feriram milhares de pessoas, cujos autores hoje desfrutam de total impunidade; enquanto lutadores antiterroristas cubanos são condenados à prisão perpetua; uma chamada Lei de Ajuste Cubano concede entrada, residência e emprego nos Estados Unidos. Cuba é o único país do mundo a cujos cidadãos é aplicado esse privilégio, negado aos do Haiti, depois do terremoto que matou mais de 300 mil pessoas, e ao resto dos cidadãos do hemisfério, aos que o império persegue e expulsa. Contudo, a Revolução cubana continua em pé.



Cuba é o único país do planeta que não pode ser visitado pelos cidadãos estadunidenses; mas Cuba existe e continua em pé, a só 90 milhas dos Estados Unidos, travando sua luta heroica.



Os revolucionários cubanos temos cometido erros e os seguiremos cometendo, porém jamais cometeremos o erro de ser traidores.



Jamais elegemos a ilegalidade, a mentira, a demagogia, o engano ao povo, a simulação, a hipocrisia, o oportunismo, o suborno, a ausência total de ética, os abusos de poder, inclusive o crime e as torturas nojentas, que com óbvias, embora sem dúvida meritórias exceções, têm caracterizado a conduta dos presidentes dos Estados Unidos.



Neste momento, a humanidade enfrenta problemas sérios e sem precedentes. O pior é que em grande parte as soluções dependerão dos países mais ricos e desenvolvidos, que chegarão a uma situação que realmente não estão em condições de enfrentar, sem que se derrube o mundo que estiveram tentando moldar a favor de seus interesses egoístas, e que inevitavelmente leva ao desastre.



Não estou falando de guerras, de cujos riscos e consequências já falaram pessoas sábias e brilhantes, incluídas muitas norte-americanas.



Estou falando de uma crise dos alimentos, causada por fatos econômicos e mudanças climáticas que, aparentemente, já são irreversíveis, em consequência da ação do homem mas, que de todas formas, a mente humana está no dever de enfrentar com urgência. Durante anos, que em realidade foi tempo perdido, se falou do assunto. Porém, o maior emissor de gases poluentes do mundo, Estados Unidos, se negava sistematicamente a levar em conta a opinião mundial. Deixando de lado o protocolo e outras bobagens habituais nos homens de Estado das sociedades de consumo, que quando têm acesso ao poder costumam ficar atordoados devido à influência da mídia, a realidade é que não prestaram atenção ao assunto. Um homem alcoolizado, cujos problemas eram conhecidos, e não preciso dizer o nome, impôs sua linha à comunidade internacional.



Os problemas ganharam força, agora, de súbito, mediante fenômenos que se estão repetindo em todos os continentes: muito calor, incêndios de florestas, perdas de colheitas na Rússia, com numerosas vítimas; mudança climática na China, chuvas excessivas ou secas; perdas progressivas das reservas de água no Himalaia, que ameaça a Índia, China, Paquistão e outros países; chuvas excessivas na Austrália, que alagaram quase um milhão de quilômetros quadrados; ondas de frio insólitas e fora de época na Europa, com afetações consideráveis à agricultura; secas no Canadá; ondas inusuais de frio nesse país e nos Estados Unidos; chuvas sem precedentes na Colômbia, que afetaram milhões de hectares de culturas; precipitações jamais vistas na Venezuela; catástrofes por excessivas chuvas nas megacidades do Brasil e secas no sul. Praticamente, não existe região no mundo onde estes fatos não tenham acontecido.



As produções de trigo, soja, milho, arroz e outros cereais e leguminosas, que constituem a base alimentar do mundo â�ö cuja população atinge hoje, segundo cálculos, quase 6,9 bilhões de habitantes, já se aproxima da cifra inédita de 7 bilhões, e onde mais de 1 bilhão sofre fome e desnutrição â�ö estão sendo afetadas seriamente pelas mudanças climáticas, criando um problema grave no mundo. Quando as reservas não foram recuperadas totalmente, ou só em parte para alguns tópicos, uma grave ameaça está criando problemas e desestabilização em numerosos estados.



Mais de 80 países, todos eles do Terceiro Mundo, com dificuldades reais, são ameaçados pela fome.



Apenas vou citar estas declarações e relatórios, de maneira sintetizada, que estão sendo publicados nos últimos dias:



"A ONU adverte para risco de uma nova crise alimentar. " 11 de janeiro de 2011 (AFP).



"Estamos perante uma situação muito tensa..." Coincidiu a FAO.



"Cerca de 80 países enfrentam um déficit de alimentos..."



"O índice global dos preços dos produtos agropecuários de base (cereais, carne, açúcar, oleaginosas, lacticínios) situa-se atualmente em seu nível máximo desde que a FAO começou a elaborar esse índice, há 20 anos".



"NAÃ�ÕES UNIDAS, janeiro (IPS)."



"A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), com sede em Roma, alertou, na semana passada, que os preços mundiais do arroz, do trigo, do açúcar, da cevada e da carne (...) aumentarão significativamente em 2011..."



"PARIS, 10 de janeiro (Reuters).â�ö O presidente da França, Nicolas Sarkozy, apresentará esta semana, em Washington, sua campanha para enfrentar os altos preços globais dos alimentos..."



"Basileia, Suíça, 10 de janeiro (EFE).â�ö O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean Claude Trichet, porta-voz dos governadores dos bancos centrais do G-10, alertou hoje sobre a o aumento do preço dos alimentos e sobre a ameaça de inflação nas economias emergentes".



"Banco mundial teme uma crise no preço dos alimentos, 15 de janeiro (BBC)".



"O presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, informou à BBC que a crise seria mais profunda do que a de 2008. "MÉXICO DF, 7 de janeiro (Reuters)".



"Em novembro, o ritmo anual da inflação dos alimentos triplicou no México, em comparação com os dois meses anteriores..."



"Washington, 18 de janeiro (EFE)".



"Segundo um estudo realizado, a mudança climática agravaria a falta de alimentos".



"Há mais de 20 anos, os cientistas alertaram sobre o impacto da mudança climática, mas nada mudou, a não ser o aumento das emissões que provocam o aquecimento global", disse à Efe Liliana Hisas, diretora executiva da filial estadunidense desta organização."



Osvaldo Canziani, Prêmio Nobel da Paz em 2007 e assessor científico do relatório, indicou que "no mundo todo serão registrados fenômenos meteorológicos e condições climáticas extremas, e o aumento da temperatura média superficial incrementará a intensidade desses fenômenos".



"(Reuters), 18 de janeiro.â�ö A Argélia compra trigo para evitar escassez e distúrbios".



"A agência estatal de grãos da Argélia comprou por volta de 1 milhão de toneladas de trigo, nas últimas duas semanas, para evitar a escassez, caso ocorram distúrbios", disse à Reuters uma fonte do Ministério da Agricultura.



"(Reuters), 18 de janeiro.â�ö O preço do trigo aumenta em Chicago, após compras da Argélia".



"O Economista, 18 de janeiro de 2011."



"Alerta mundial devido ao preço dos alimentos".



"Entre as principais causas estão as enchentes e as secas provocadas pela mudança climática, o uso de alimentos para produzir combustíveis e a especulação no preço dos commodities".



Os problemas são dramaticamente sérios. Contudo, nem tudo está perdido.



A produção atual de trigo calculada atingiu a cifra de quase 650 milhões de toneladas.



A produção de milho ultrapassa essa quantidade e se aproxima dos 770 milhões de toneladas.



A soja poderia aproximar-se dos 260 milhões, dos quais os Estados Unidos calculam 92 milhões e o Brasil, 77. São os dois maiores produtores.



De maneira geral, os dados de gramíneas e leguminosas disponíveis em 2011 são conhecidos.



O primeiro assunto a resolver pela comunidade mundial seria selecionar entre alimentos e biocombustíveis. O Brasil, um país em desenvolvimento, com certeza, deveria ser compensado.



Se os milhões de toneladas de soja e milho que serão investidos em biocombustíveis fossem destinados à produção de alimentos, o aumento inusitado dos preços poderia parar, e os cientistas do mundo poderiam propôr fórmulas que, de alguma maneira, possam deter e inclusive, reverter a situação.



Perdeu-se muito tempo. É hora de fazer alguma coisa.



Data de Publicação: 19 de janeiro de 2011

Colombia Derechos Humanos) - Prision arbitraria na Colombia

Apresada la poetisa y periodista Angye Gaona: se hace un llamado a la solidaridad. Tres detenciones arbitrarias de estudiantes en la segunda semana de enero 2011, Colombia.


Fuente: Areito Imagen
Apresada la poetisa y periodista Angye Gaona: el Estado colombiano quiere callarla para mantener la oscuridad genocida. La poetisa y comunicadora es apresada por pensar, en Colombia: país en el que el estado ha convertido el hecho de pensar en un crimen.

Es una situación insoportable: cada día detienen, asesinan o desaparecen a un opositor político, estudiante, sindicalista, sociólogo, campesino... La represión ejercida por el Estado colombiano contra el pueblo colombiano para acallar sus reivindicaciones sociales es brutal. Urge que el mundo se mueva en solidaridad. Que se dé a conocer esta realidad y sus dimensiones que rebasan todo en el Orbe.

He aquí un fragmento de un poema de Angye Gaona, para que conozcan su alma sincera y tierna, solidaria y creativa: "Tejido blando"

No quieras contener todo el aire de los abismos,toma sólo el de tu pequeña inspiración,acarícialo por instantes,susúrrale como si al último alientoy déjalo libre ir allí,a donde tú también quisieras:vasto, inmenso, indistinto.Sopla fuerte lo que guardas. No recojas más lágrimas, pecho blando.Y si un niño preso llora, dirás,y si un hombre es torturado, dirás.Que no es tiempo de guardar la ira, te digo.Es momento de fraguar y hacer lucirel filo.

Angye Gaona es una mujer creativa y comprometida socialmente, siempre activa en el desarrollo de la cultura; parte del comité organizador del conocido Festival Internacional de Poesía de Medellín, cuya calidad testimonia de trabajo y sueños tejidos entre los pueblos.

Urge la movilización internacional por su liberación y por denunciar que el estado colombiano mantiene encarceladas a más de 7.500 personas por el "delito de opinión": estamos ante una verdadera dictadura camuflada.

Empieza el 2011 con más detenciones de estudiantes: Hoy lunes 17 de enero de 2011 fue detenido Julian Andoni Domínguez estudiante universitario; una hora después en las inmediaciones de la CUT Santander integrantes del CTI de la fiscalía y del GAULA detienen a William Rivera Rueda, estudiante universitario de derecho y defensor de Derechos Humanos, del sector gremial de los trabajadores informales, quien fue amedrantado después de haber sido detenido por integrantes de la Armada Nacional quienes le dijeron “a usted lo conocemos, por ahí le mandaron una razoncita después hablamos” ; estas últimas detenciones se produjeron en Bucaramanga. Dentro de los encarcelamientos masivos de estudiantes y sindicalistas adelantados por el ejército y fuerza pública de Colombia en esta segunda semana de enero 2011, se encuentra también la sindicalista Aracely CAÑAVERAL Vélez.

Fecha de Publicación: 18 de enero de 2011

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Brasll-Meio Ambiente) - As águas turvas da Nestlé

Há alguns anos a Nestlé vem utilizando os poços de água mineral de São Lourenço para fabricar água marca PureLife. Diversas organizações da cidade vêm combatendo a prática, por muitas razões.

Carla Klein

As águas minerais, de propriedades medicinais, e baixo custo, eram um eficiente e barato tratamento médico para diversas doenças, que entrou em desuso, a partir dos anos 50, pela maciça campanha dos laboratórios farmacêuticos para vender suas fórmulas químicas através dos médicos.

Mas o poder dessas águas permanece. Médicos da região, por exemplo, curam a anemia das crianças de baixa renda apenas com água ferruginosa.

Para fabricar a PureLife, a Nestlé, sem estudos sérios de riscos à  saúde, desmineraliza a água e acrescenta sais minerais de sua patente.

A desmineralização de água é proibida pela Constituição. Cientistas europeus afirmam que nesse processo a Nestlé desestabiliza a água e acrescenta sais minerais para fechar a reação.

Em outras palavras, a PureLife é uma água química.

A Nestlé está faturando em cima de um bem comum, a água, além de o estar esgotando por não obedecer às normas de restrição de impacto ambiental, expondo a saúde da população a riscos desconhecidos. O ritmo de bombeamento da Nestlé está acima do permitido.

Troca de dutos na presença de fiscais é rotina. O terreno do Parque das Águas de São Lourenço está afundando devido ao comprometimento dos lençóis subterrâneos. A extração em níveis além do aceito está comprometendo os poços minerais, cujas águas têm um lento processo de formação. Dois poços já secaram. Toda a região do sul de Minas está sendo afetada, inclusive estâncias minerais de outras localidades.

Durante anos a Nestlé vinha operando, sem licença estadual. E finalmente obteve essa licença no início de 2004.

Um dos brasileiros atuantes no movimento de defesa das águas de São Lourenço, Franklin Frederick, após anos de tentativas frustradas junto ao governo e imprensa para combater o problema, conseguiu apoio, na Suíça, para interpelar a empresa criminosa. A Igreja Reformista, a Igreja Católica, Grupos Socialistas e a ong verde ATTAC uniram esforços contra a Nestlé, que já havia tentado a mesma prática na Suíça.

Em janeiro deste ano, graças ao apoio desses grupos, Franklin conseguiu interpelar pessoalmente, e em público, o presidente mundial do Grupo Nestlé. Este, irritado, respondeu que mandaria fechar
imediatamente a fábrica da Nestlé em São Lourenço.

No dia seguinte, o governo de Minas (PSDB), baixou portaria que regulamentava a atividade da Nestlé. Ao invés de multas, uma autorização, mesmo ferindo a legislação federal. Sem aproveitar o apoio internacional para o caso, apoiou uma corporação privada de histórico duvidoso. Se a grande imprensa brasileira, misteriosa e sistematicamente vem ignorando o caso, o mesmo não ocorre na Europa, onde o assunto foi publicado em jornais de vários países, além de duas matérias de meia hora na televisão.

Em uma dessas matérias, o vereador Cássio Mendes, do PT de São Lourenço, envolvido na batalha contra a criminosa Nestlé, reclama que sofreu pressões do Governo Federal (PT), para calar a boca.

Teria sido avisado de que o pessoal da Nestlé apóia o Programa Fome Zero e não está gostando do barulho em São Lourenço. Diga-se também que a relação espúria da Nestlé com o Fome Zero é outro caso sinistro.

A empresa, como estratégia de marketing, incentiva os consumidores a comprar seus produtos, alegando que reverte lucros para o Fome Zero. E qual é a real participação da Nestlé no programa? A contratação de agentes e, parece, também fornecendo o treinamento. Sim, a famosa Nestlé, que tem sido há décadas alvo internacional de denúncias de propaganda mentirosa, enganando mães pobres e educadores para a substituição de leite materno por produtos Nestlé, em um dos maiores  crimes contra a humanidade.

A vendedora de leites e papinhas "substitutos" estaria envolvida com o treinamento dos agentes brasileiros do Fome Zero, recolhendo informações e gerando lucros e publicidade nas duas pontas do
programa: compradores desejosos de colaborar e famintos carentes de comida e informação. Mais preocupante: o Governo Federal anuncia que irá alterar a legislação, permitindo a desmineralização "parcial" das águas. O que é isso? Como será regulamentado?

Se a Nestlé vinha bombeando água além do permitido e a fiscalização nada fez, como irão fiscalizar a tal desmineralização "parcial"? Além do que, "parcial" ou "integral", a desmineralização é combatida por cientistas e pesquisadores de todo o mundo. E por que alterar a legislação em um item que apenas interessa à Nestlé? O que nós cidadãos ganhamos com isso?

Sabemos que outras empresas, como a Coca-Cola, estão no mesmo caminho da Nestlé, adquirindo terrenos em importantes áreas de fontes de água.

É para essas empresas que o governo governa?


Colabore. Transmita estas informações para outras pessoas. Mais informações sobre o caso Nestlé em www.cidadaniapelasaguas.net

Publicado em 19.01.2011

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

(Tunsia - Política) - Jornalistas têm participação intensa nas mudanças

 Com a “Revolução do Jasmim” jornalistas tomam o poder nas redações




Fonte:Jornal Humanité


Tradução de Max Altman

Os jornalistas tunisinos, silenciados e amordaçados sob o regime do presidente deposto Ben Ali, levam a cabo sua própria « Revolução do Jasmim » assenhoreando-se da linha editorial nas redações, sem, por enquanto, exigir a saída de sua direção.

Fenômeno sem precedente, comitês de redação são formados nos meios de comunicação do Estado, nos jornais privados considerados próximos do antigo regime e até naqueles do ex-partido no poder, a União Constitucional Democrática (RCD por sua sigla em francês), cuja dissolução as massas populares estão a exigir nas ruas. "Somos nós que vamos decidir doravante a linha editorial » declarou Faouzia Mezzi, jornalista de La Presse, um jornal prestigioso que, sob Ben Ali, havia sido submetido totalmente às ordens de sua camarilha. "Nós constituímos dois comitês de redação, um para o La Presse, em francês, e outro para o Essahafa, cotidiano do mesmo grupo, em árabe, explica a senhora Mezzi, acrescentando que o diretor-geral do grupo está confinado, no momento, ao papel daquele que « assina os cheques » a fim de garantir o andamento da empresa.

O primeiro sinal de mudança nos meios de comunicação surgiu na noite que se seguiu à fuga de Ben Ali, na sexta-feira, 14 de janeiro, com o desaparecimento da tela da televisão pública do logo "Tunis7" em referência ao 7 de novembro de 1987, data em que o ex-presidente tomou o poder. "Televisão nacional », proclama o novo logotipo, sobre um fundo vermelho e branco, as cores nacionais. O tom mudou completamente no canal público, que dá, a partir de agora, a palavra aos antigos opositores e às pessoas da rua, e, de resto, organizando extensos debates.

"Não se exerce hoje qualquer censura", indica Karima, uma jornalista do serviço de informações da rádio pública RTCI, porém « nós filtramos as informações tentando comprovar os fatos. A equipe de direção está em seu posto mas ela nos deixa fazer o nosso serviço de jornalistas. » O mesmo ocorre com o grupo de mídia próximo do antigo poder, o Al-Anouar, que possuiu quatro títulos. « Os redatores-chefes desapareceram mas os jornalistas continuam a trabalhar », informa Chokri Baccouche, redator-chefe adjunto de um dos títulos.

A tomada do poder aconteceu igualmente na Radio Mosaique FM que pertence a pessoas próximas de Ben Ali. "Decidimos tomar em nossas mãos a linha editorial da rádio para que ela possa transmitir a voz dos tunisinos sejam quais forem as suas opiniões e a que agrupamento pertençam » anunciaram num comunicado os novos dirigentes, os jornalistas e os empregados da estação radiofônica.

Data de Pubicação: 19.1.2011

(Brasil - Clima) - Maior tragédia do Brasil foi na Serra das Araras

Tragédia na região serrana do Estado do Rio de Janeiro está sendo considerada equivocadamente pela mídia como a maior tragédia do gênero ocorrida no país
 Aurélio Paiva

Uma cruz de 10 metros na subida da Serra das Araras (Piraí-RJ), no local conhecido por Ponte Coberta, marca o início de um enorme cemitério construído pela natureza. Lá estão cerca de 1.400 mortos (fora os mais de 300 corpos resgatados) vítimas de soterramento pelo temporal que atingiu a serra em janeiro de 1967. Foi a maior tragédia da história do país, superando o número de mortos da atual tragédia na Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro, hoje acima de 500.

No episódio da Serra das Araras, suas encostas praticamente se dissolveram em um diâmetro de 30 quilômetros. Rios de lama desceram a serra levando abaixo ônibus, caminhões e carros. A maioria dos veículos jamais foi encontrada. Uma ponte foi carregada pela avalanche. A Via Dutra ficou interditada por mais de três meses, nos dois sentidos.

A Revista Brasileira de Geografia Física publicou, em julho do ano passado, a lista das maiores catástrofes por deslizamento de terras ocorridos no país. O episódio da Serra das Araras, com seus 1700 mortos estimados, supera de longe qualquer outro acidente do gênero no país.

Para se ter uma idéia do que ocorreu na Serra das Araras basta comparar os índices pluviométricos. A atual tragédia de Teresópolis ocorreu após um volume de chuvas de 140mm em 24 horas. Na Serra das Araras, em 1967, o volume de chuvas chegou a 275 mm em apenas três horas. Quase o dobro de água em um oitavo do tempo.

Mas o episódio da Serra das Araras parece ter sido apagado da memória do país e, especialmente, da imprensa. O noticiário dos veículos de comunicação enfatiza que a tragédia da Região Serrana do Rio superou o desastre de Caraguatatuba em março de 1967 (ver abaixo). O caso da Serra das Araras, ocorrido em janeiro daquele mesmo ano, sequer é citado.

Até a ONU embarcou na história e colocou a tragédia atual entre os dez maiores deslizamentos de terras do mundo nos últimos 111 anos.

Caraguatatuba

O ano de 1967 foi realmente atípico. Em março, dois meses após a tragédia da Serra das Araras, outro desastre atingiu Caraguatatuba, no litoral paulista. Chovia quase todos os dias desde o início do ano (541mm só em janeiro, o dobro do normal). Do dia 17 para 18 de março, um temporal produziu quase 200 mm de chuvas em um solo já encharcado. No início da tarde de 18 de março, sábado, a tragédia aconteceu sob intenso temporal que chegou a acumular 580mm de chuvas em dois dias (Teresópolis teve 366mm em 12 dias).

Segundos os relatos da época, houve uma avalanche de lama, pedras, milhares de árvores inteiras e troncos que desceu das encostas da Serra do Mar, destruindo casas, ruas, estradas e até uma ponte. Cerca de 400 casas sumiram debaixo da lama. Mais de 3 mil pessoas ficaram desabrigadas (20% da população da época). O número de mortos - cerca de 400 - foi feito por estimativa, pois a maioria dos corpos foi soterrada ou arrastada para o mar.

Detalhe: Caraguatatuba, em 1967, era um balneário turístico de 15 mil habitantes. Dá para imaginar quais seriam as consequências se aquela tragédia ocorresse hoje, com os atuais 100 mil habitantes.


Publicado em 14/1/2011